Folha de S. Paulo


Contra monopólio, Alemanha pede que Google detalhe segredos de buscas

O governo alemão está convocando o Google a revelar detalhes sobre a fórmula secreta que permitiu que a empresa monopolizasse a busca na web na Europa, em uma atitude que provavelmente deve ser bem-vinda por concorrentes e fortemente combatida pela gigante americana.

Em uma entrevista com o "Financial Times", o ministro da Justiça da Alemanha, Heiko Maas, disse que o Google devia se tornar mais "transparente" sobre o algoritmo que é usado para decidir o posicionamento das páginas nos resultados.

Mas Robert Kimmitt, que já foi embaixador dos EUA na Alemanha, foi bastante crítico desses comentários. As empresas e governos europeus "deveriam estar preocupados em relação à apropriação de propriedade intelectual", disse ao "FT".

A nova ofensiva é realizada em meio a uma pressão exercida contra o Google e outras firmas de internet pela Europa que diz respeito à sua crescente dominância de mercados on-line e a manipulação de dados pessoais, posteriormente ao escândalo de espionagem americana na rede.

Documentos vazados alegam que o Google era uma de muitas empresas de internet que permitiram que espiões americanos tivessem acesso aos dados de alguns dos seus usuários, violando regras de privacidade da União Europeia. O Google nega ter cooperado.

A Comissão Europeia tomou na semana passada um passo que não tinha precedente ao rejeitar a terceira tentativa do Google de encerrar um caso em que a empresa é acusada de aproveitar-se da posição de dominância no mercado para promover serviços seus em áreas de compras e monetização de voos e restaurantes.

Maas disse: "No final, relaciona-se a quão transparentes são os algoritmos que o Google usa para classificar seus resultados de pesquisa. Quando uma ferramenta de busca tem tal impacto no desenvolvimento econômico, isso se torna uma questão com a qual temos de lidar."

O algoritmo do Google é a "receita do molho secreto" que permite sua hegemonia em consultas on-line. Seus detratores dizem que as fórmulas são criadas de tal modo que sejam danosas à concorrência –e pedem que elas sejam publicadas para garantir que o Google seja devidamente responsabilizado. O Google diz que esse nível de transparência entregaria aos competidores seus segredos de negócio.

A Alemanha vem sendo protagonista nos esforços europeus para limitar o aplacante poder de mercado da companhia californiana. Personalidades governamentais veteranas e líderes empresariais fizeram grandes esforços a fim de forçar mudanças na maneira que o Google conduz suas atividades na União Europeia.

Maas, que também é responsável por proteção do consumidor alemão, diz que a influência do Google é "excepcional".

O serviço de busca geral na web tem participação de mercado no segmento de mais de 90% na União Europeia, ante 68% nos EUA. Pesquisa de julho diz que, no Brasil, essa fatia é de 92%.

"Acredito, portanto, que o poder do Google sobre consumidores e sobre os operadores de mercado é extraordinário", disse. "Temos de discutir que precauções são tomadas para que a empresa não abuse da potência que tem."

O ministro disse que a Alemanha buscava um acordo consensual para o caso, mas afirmou que uma eventual divisão do Google seria um "último recurso".


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