Folha de S. Paulo


Realidade virtual declara guerra contra o enjoo

Uma criatura animada em 3D, chamada Gerald, parece andar em círculos enquanto flutua em frente a um sofisticado visor que parece saído de um consultório de oftalmologista.

Apesar de medir apenas um metro e meio e ter quatro braços, Gerald parece muito real quando visto através das lentes que transmitem aquilo que cientistas da computação e engenheiros óticos chamam de "campo de luz digital". A tecnologia tem como objetivo superar os desafios técnicos mais significativos que bloqueiam a explosão de uma realidade virtual.

Embora esse setor possa vir a transformar radicalmente o entretenimento, os jogos e outras formas de computação, ele tem um calcanhar de Aquiles: muitas pessoas ficam mareadas depois de cobrirem os olhos com equipamentos de visualização que borram a linha divisória entre a realidade física e as imagens geradas por computador.

Corrigir essa sensação é um desafio e tanto, porém. Quase 50 anos depois de o cientista de computação Ivan Sutherland ter sido o pioneiro na criação de telas de computador acopladas à cabeça, mais de 20 empresas já tentaram –com pouco sucesso– comercializar várias formas dessa tecnologia, chamada de "exibição próxima ao olho" (NED, na sigla em inglês).

"O mercado dos NEDs é um cemitério de sonhos desfeitos", disse David Luebke, diretor-sênior de pesquisa da Nvidia, uma companhia de computação gráfica do Vale do Silício. Sejam óculos volumosos que bloqueiam o mundo real (realidade virtual) ou vidros mais finos que misturam o ambiente real com imagens de computador (conhecida como realidade aumentada), a tecnologia se baseia em mostrar imagens a ambos os olhos ao mesmo tempo. No entanto, inevitavelmente, muitos usuários enfrentam os "enjoos de simulador" e outros tipos de desconforto, como dores de cabeça e fadiga.

"O uso prolongado de dispositivos que criam sintomas pode induzir uma mudança mais crônica", disse Joseph Rizzo, professor da Faculdade de Medicina de Harvard.

A start-up Magic Leap, criadora do Gerald, está buscando uma abordagem diferente com o uso do campo de luz digital. A Magic Leap e outros pesquisadores da área afirmam que os campos de luz digital irão contornar os problemas neurológicos e visuais ao munirem o espectador com pistas sobre a profundidade semelhantes às que são fornecidas pelos objetos naturais. Isso permitirá o uso de visores de realidade aumentada por períodos mais longos sem desconforto, dizem.

Divulgação/Magic Leap
Laboratório da Magic Leap, empresa que usa uma técnica de campo de luz para hologramas realistas
Laboratório da Magic Leap, empresa que usa uma técnica chamada campo de luz digital

Os aficionados da realidade virtual e aumentada imaginam um mundo no qual as telas de computadores e televisores serão obsoletas, e será possível projetar animações realistas em reuniões feitas em qualquer lugar. Eles descrevem uma geração que vai além do computador pessoal e dos smartphones, baseando-se no que descrevem como "computação perceptiva".

"Jogar jogos é a sobremesa", disse Rony Abovitz, criador do Magic Leap. "Nosso verdadeiro mercado são pessoas fazendo coisas cotidianas."


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