Folha de S. Paulo


Samsung pede desculpas por casos de câncer em funcionários na Coreia

A Samsung pediu desculpas e prometeu compensar trabalhadores que contraíram tipos de câncer ligados a exposição química em uma rara vitória para as famílias e para os ativistas nesta quarta-feira (14), sete anos depois que a morte por leucemia de um funcionário de 23 anos criou um movimento pela responsabilização da fabricante sul-coreana.

A Samsung disse que o pedido de desculpa não significa que está admitindo há relação entre as substâncias que usa em fábricas de microchips e o câncer ou outras enfermidades. Ainda assim, o comunicado desta quarta, em que a companhia diz que deveria ter buscado uma solução antes, é uma mudança radical em relação ao posicionamento anteriormente de resistência a uma eventual compensação a trabalhadores e seus parentes.

O vice-presidente do conselho da empresa, Kwon Oh-hyun, disse que a empresa, a maior fabricante de smartphones e de chips de memória, indenizará funcionários e famílias.

"Sentimos muito que uma solução para essa questão delicada não tenha sido encontrada de maneira oportuna, e gostaríamos de aproveitar esta oportunidade para expor nosso mais sincero perdão às pessoas afetadas", disse Kwon em um comunicado por e-mail. Os noticiários locais mostraram Kwom lendo o comunicado em frente a repórteres.

A declaração da Samsung vem após um mês de o parlamentar de oposição Sim Sang-jeung ter solicitado ao governo uma solução para as vítimas do ambiente de trabalho e para a prevenção desse fenômeno. A resolução apresentada por Sang-jeung no mês passado dizia que 114 dos 243 operários que ficaram doentes por causa do trabalho desde os anos 90 no país foram funcionários da Samsung.

Nos últimos anos, a empresa resistiu às demandas por desculpas. A companhia também apoiou em batalhas judiciais uma agência de compensação trabalhista do governo nas negativas do órgão a indenizar trabalhadores. Na Coreia do Sul, empresas pagam uma taxa para alimentar um fundo governamental para indenizações a funcionários que adoeceram e acidentes de trabalho.

Os tribunais decidiram a favor de três em 12 casos. A agência, chamada Serviço de Bem-estar e Indenização a Trabalhadores da Coreia, fez apelações. Kwom disse que a Samsung não se envolverá mais nesses processos.

Antigos trabalhadores da Samsung, suas famílias e grupos civis vêm lutando há anos para angariar atenção sobre esses casos de câncer. No ano passado, a história de Hwang Yu-mi, que morreu aos 23, e as batalhas legais por seu pai, foi retratada em um filme financiado por doações e trouxe maior atenção à possível ligação entre as condições de trabalho nas fábricas mais antigas da Samsung e o câncer nos trabalhadores.

QUESTÃO PESSOAL

O parlamentarista Sang-jeung e os grupos de ativistas disseram ser bem-vindo o pedido de desculpas, e alertaram para a necessidade de começar o quanto antes as conversas sobre indenização.

Observadores dizem que a controvérsia sobre o câncer é um ponto que Lee Kun-hee, o presidente do conselho da Samsung e filho do fundador da empresa (Lee Byung-chul), quer resolver antes de passar o cargo de liderança ao seu filho. Lee, 72, está internado em estado estável após ter sofrido uma parada cardíaca no sábado.

A Samsung tem capital aberto, mas a família fundadora ainda tem forte influência sobre o controle do grupo.


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