Folha de S. Paulo


Jogos como "Flappy Bird" podem viciar como drogas, diz psicóloga

O que é que estimula o sistema nervoso central, chega rapidamente ao cérebro, causa euforia de curta duração seguida de uma sensação de intensa irritação e vicia rapidamente o usuário?

É crack, mas também pode ser "Flappy Bird". "O mecanismo do vício em jogos funciona de forma bem semelhante ao do vício em drogas. Ativa as mesmas áreas do cérebro", diz Luciana Ruffo, psicóloga do Núcleo de Pesquisas de Psicologia em Informática da PUC-SP.

Os efeitos do game são sentidos quase imediatamente após o uso — mas, no entanto, duram em média 5 minutos, o que leva o usuário a consumir o jogo em curtos períodos de tempo, tornando-se dependente rapidamente.

"No jogo encontro prazer rápido ao vencer um obstáculo. O problema vem quando não encontro mais o mesmo tipo de recompensa. Continuo perseguindo essa sensação e então começo a ter um comportamento destrutivo, pois acredito que logo mais aquela 'sensação' desejada vai acontecer de novo", completa Ruffo.

Andrew Sipotz, produtor na DeNA, empresa japonesa de games móveis, diz que "Flappy Bird" segue a lógica de outros jogos, como "Angry Birds" e "Candy Crush". "Foi desenvolvido para ser viciante. É simples, sem curva de aprendizado, divertido. É por isso que fez sucesso. As pessoas se irritam mas não param de jogar", diz.

É só fazer uma pesquisa no YouTube ou no Twitter por "Flappy Bird": a relação dos usuários com o game é mesmo de amor e ódio. E isso inclui seu próprio criador, o vietnamita Dong Nguyen.

Há um vídeo no qual uma pessoa destrói o celular com um martelo após morrer e vários tuítes que relacionam o jogo a drogas, em que é chamado de viciante muitas vezes.

A dificuldade do game é altíssima, apesar da jogabilidade simples e veloz. Jonathan Blow, desenvolvedor de games famoso por criar "jogos de arte", onde não há punição e nem tensão, apenas "deslumbramento visual", critica a fórmula.

"A indústria de jogos está perseguindo maior base de jogadores, e estamos explorando-os de forma antiética", afirma Blow.

"'Flappy Bird' foi projetado para jogar durante alguns minutos quando você está relaxado", disse Nguyen. "Mas aconteceu de ele se tornar um produto viciante. Tornou-se um problema. É melhor removê-lo. Foi-se. Para sempre".


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