Folha de S. Paulo


Oficina high-tech materializa, de graça, projetos feitos no PC

Quando o professor Niel Gershenfeld, do MIT, criou a disciplina de fabricação digital "Como fabricar quase qualquer coisa", esperava que meia dúzia de engenheiros e designers da faculdade se interessasse pelas aulas.

Acabou recebendo centenas de e-mails de pessoas sem relação com a área, mas que queriam "fazer coisas".

Foi aí que teve a ideia do Fab Lab, uma oficina com equipamentos de ponta e aberta para o público.

Para Eduardo Lopes, fundador do Garagem Fab Lab, unidade do projeto no Brasil, o mérito da ideia é, junto a outras tendências, como o financiamento coletivo, "emancipar" as pessoas.

"Qualquer um, com um pouco de treinamento, pode fazer um produto totalmente personalizado sem ter que depender de uma grande corporação", afirma.

A independência permite que surjam soluções para nichos que seriam ignorados pela indústria, argumenta. Como exemplo, ele cita um marceneiro que fabricou a própria prótese após perder os dedos da mão.

Normalmente, os Fab Labs ficam abertos para que as pessoas desenvolvam livremente os próprios projetos. No Brasil, que tem a cultura do 'faça você mesmo' menos enraizada do que nos EUA, eles escolheram começar com projetos orientados, como uma bicicleta com estrutura em madeira.

Na última quinta-feira, um grupo formado por entusiastas das bikes, designers, arquitetos e curiosos se reuniu para cortar um primeiro protótipo, depois de meses de discussões e desenhos.

O próximo passo será tentar instalar componentes tradicionais no quadro fabricado e ver se a bicicleta anda.

INVENTOR

No ano que vem, o Garagem diz que abrirá um ou dois dias por semana para o uso livre dos equipamentos.

Osvaldo Dalla Coletta, 70, economista e analista de sistemas aposentado, que passou a frequentar o local há cerca de 20 dias, está animado com a perspectiva.

Desde sua aposentadoria, em 1995, ele se dedica exclusivamente ao hobby que nutria desde a juventude, no interior paulista: a invenção.

Autodidata, Coletta já projetou de cortador de unha elétrico a um "motor movido pelo empuxo de fluidos" –o site do Inpi (Instituto Nacional da Propriedade Industrial), órgão que regula as patentes no Brasil, lista 13 inventos em seu nome.

Por falta de apoio, diz, nada saiu da prancheta.

"Procurei o Senai e o Sebrae, mas eles só atendem pessoa jurídica. O inventor independente não consegue ajuda nem pagando."

A situação não o entristece. "O prazer está no processo de inventar. Estou saudável e com vigor aos 70 anos porque os neurônios não param", diz. Mas isso deve mudar no ano que vem, quando seu motor finalmente ganhará um protótipo no Garagem Fab Lab.


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