Folha de S. Paulo


Wii U pode ser boa compra pelo melhor 'Super Mario' em anos

Já tenho o novo PlayStation 4, da Sony, e o ainda mais novo Xbox One, da Microsoft, conectados ao meu televisor, mas passei o final de semana conectado ao Wii U, da Nintendo.

Parece o começo de uma piada muito ruim sobre videogames. Um ano depois de lançado, o console que sucedeu o Wii está beirando uma reputação equivalente à do Zune, o malfadado tocador de MP3 da Microsoft.

As vendas do Wii U, especialmente se contrastadas ao predecessor Wii, que registrou vendas superiores a 100 milhões de unidades, vêm sendo inacreditavelmente medíocres. O console até que estreou bem, com três milhões de unidades vendidas em 2012. Desde então, porém, o entusiasmo que pudesse existir quanto a ele parece ter sido sequestrado e encarcerado, para tomar de empréstimo um pouco da fantasia que caracteriza a Nintendo, em um castelo do Reino do Cogumelo.

Nos primeiros nove meses do ano, a Nintendo vendeu menos de um milhão de unidades do Wii U. O modelo novo perdeu em vendas para o velho Wii, que está há sete anos no mercado, no segundo trimestre.

Mas o Wii U também é o único console novo a contar com um videogame digno de ser jogado. O "Super Mario 3D World", lançado em novembro, é o melhor jogo da série "Mario" em anos.

Se você vive em um dos cerca de dois milhões de domicílios que já têm um console novinho --o número é difícil de determinar, em parte porque é difícil descobrir quantos do milhão de consoles PlayStation 4 e Xbox One que a Microsoft e Sony dizem cada qual ter vendido nas primeiras 24 horas de lançamento, nos últimos 10 dias foram comprados por pessoas que adquiriram os dois modelos simultaneamente--, já deve ter descoberto que consoles novos, com raras exceções, não chegam acompanhados por jogos especialmente empolgantes.

A Nintendo contrariou muitas vezes a norma de "console novo, jogos medíocres", que há muito se aplica no mercado de videogames, o que só agrava a frustração dos compradores do Wii U.

A companhia criou reputação em 1985 com o Nintendo Entertainment System, um console que vinha acompanhado pelo "Super Mario Bros.", um dos melhores videogames de todos os tempos.

No caso do Nintendo 64, um dos primeiros títulos foi o "Super Mario 64", que os jogadores encaram com grande reverência. O título levou o encanador italiano que não se cansa de pular ao mundo tridimensional pela primeira vez, e inspirou os criadores dos jogos open-world da série "Grand Theft Auto" e muitos outros projetistas de videogames. E, claro, o primeiro Wii vinha acompanhado pelo "Wii Sports", um dos melhores títulos para aquele sistema, e ainda hoje o melhor uso prático dos controladores por sensores de movimento.

Agora, com "Super Mario 3D World", a Nintendo por fim criou para o Wii U o tipo de jogo que os gamers esperavam desde o começo. Como os melhores títulos da série "Mario", o "Super

Mario 3D World" é uma celebração surrealista da diversão e do espírito de descoberta. É uma exibição deslumbrante de mudança de ponto de vista e de uso inventivo da luz e sombra.

Os jogos da série "Mario" nos acompanham há tempo suficiente para sua estranheza fundamental esteja perdendo a força. Não fica especialmente claro o motivo para que Mario - ou Luigi, Toad e a princesa Peach - recolham estrelas verdes, quebrem tijolos e subam em postes.

Nem está claro por que, no mais proeminente dos truques novos do título recém-lançado, os personagens podem usar um sino e se transformar em gatos. Ou porque comer cerejas faz com que surjam dublês do personagem que as come, ou porque eles deslizam em trapézios, usam patins gigantes ou escalam cubos de pedra que estão despencando sobre um lago de fogo.

Ou porque o vilão Bowser, em sua mais recente encarnação, é o líder de uma espécie de circo da era disco.

Nesses jogos, explicações nunca importam. Exceto, talvez, para jogadores que acompanham a série há quase 30 anos e conhecem a história básica: Peach foi raptada ritualmente por Bowser, e resgatada por Mario, mais vezes do que o Batman lutou contra o Coringa.

Em um jogo da série "Mario", tomar o controle de Peach, agora capaz de lutar por conta própria, e permitir que ela derrote seu eterno inimigo é um ato de vingança semelhante aos praticados, com violência muito mais realista, por personagens como Beatrix Kiddo, em "Kill Bill", ou Lisbeth Salander em "Os Homens que Odiavam as Mulheres".

Um grande jogo não basta para salvar um console. Há outros bons títulos para o Wii U, mas o acervo ainda é muito limitado, especialmente se comparado ao do portátil Nintendo 3DS, que já vendeu mais de 35 milhões de unidades em todo o mundo em seus dois anos e meio de mercado, 11 milhões das quais nos Estados Unidos.

Se o Wii U é seu único console, você não poderá jogar os demais grandes títulos do ano, entre os quais "Grand Theft Auto 5", "BioShock Infinite", "Ni no Kuni: Wrath of the White Witch", "The Last of Us" e "Gone Home". Para jogar todos eles, seria preciso pelo menos duas outras máquinas.

arte

Tradução de PAULO MIGLIACCI


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