Folha de S. Paulo


Nos EUA, operadoras temem hackers e rejeitam recurso contra roubo de smartphones

Legisladores em San Francisco e em Nova York estão pressionando fabricantes de smartphones a adotar o chamado "interruptor da morte", que permitiria a usuários desativar seus telefones remotamente, desencorajando o roubo de aparelhos. Mas as operadoras de celular não estão de acordo com isso.

O procurador distrital de San Francisco, George Gáscon, afirmou que tem trabalhado num acordo com a Samsung para incluir um software antirroubo em todos os celulares vendidos pela fabricante nos Estados Unidos. Embutir o programa nos telefones requeria aprovação das operadoras que fornecem esses dispositivos. Mas as operadoras, incluindo AT&T, Verizon, T-Mobile e Sprint, rejeitaram a ideia, segundo ele.

Gáscon argumentou que, com base em e-mails entre um executivo da Samsung e um desenvolvedor do software, parecia que as operadoras não estavam afim de deixar a Samsung pré-instalar o software antirroubo. As mensagens, ele afirmou, sugerem que as operadores estão preocupadas com o lucro que esse programa podia lhes tirar, já que muitos clientes compram planos de seguro para cobrir celulares perdidos ou roubados.

"O lucro de uma corporação não pode guiar as decisões que têm consequências de vida ou morte", disse Gáscon. "Essa solução [o 'interruptor da morte'] tem o potencial de proteger os consumidores da Samsung, mas esses e-mails sugerem que as operadoras o rejeitaram para continuar ganhando cada vez mais dinheiro com seguro."

O mercado de celulares é altamente lucrativo: as vendas dos aparelhos trouxeram US$ 69 bilhões aos EUA no ano passado, de acordo com a consultoria IDC. Mas o roubo de smartphones continua a subir. Roubos de dispositivos da Apple se tornaram tão comuns que a polícia os apelidou de "escolha de maçãs".

Gáscon colaborou com Eric Schneiderman, procurador distrital de Nova York, para formar a coalizão SOS --Secure Our Smartphones [protejam nossos smartphones]--, a fim de pressionar as empresas a resolver o problema tecnologicamente.

RESISTÊNCIA

As operadoras não acham que o "interruptor da morte" seja a solução correta.

Em junho, a CTIA, grupo que representa as operadoras, disse à FCC (agência americana de telecomunicações), que o "interruptor da morte" traria riscos, pois hackers que tomassem controle do recurso poderiam desativar os celulares dos clientes, incluindo aparelhos usados por funcionários no Departamento de Defesa e policiais.

O grupo também incluiu que, se um telefone fosse desativado e o cliente o recuperasse no futuro, ele não poderia ser reativado. Essa afirmação é inverídica no caso do novo recurso antirroubo da Apple, o Activation Lock, que permite ao usuário desabilitar um telefone perdido e recuperá-lo depois, se encontrado, com o nome de usuário e a senha corretos.

Gáscon disse estar avaliando que ação tomar em relação à recusa das operadoras em permitir que a Samsung pré-instale o "interruptor da morte" em seus celulares. "Pedimos repetidamente que as operadoras tomassem ações para proteger seus clientes. Agora estamos decidindo o que será necessário fazer para forçá-las a priorizar a segurança dos consumidores em vez do dinheiro adicional em seus bolsos."

A Samsung confirmou que estava trabalhando com Gáscon e as operadoras numa solução antirroubo, mas se recusou a comentar os e-mails a que o procurador distrital se referiu.

"A Samsung leva muito a sério a questão do roubo de smartphones, e estamos continuamente melhorando nossas soluções", disse Jessica Redman, uma porta-voz da empresa. "Estamos trabalhando com líderes da iniciativa SOS para incorporar a perspectiva das agências de segurança."


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