Folha de S. Paulo


Obsolescência ameaça futuro da Microsoft

Quando era um jovem executivo da Microsoft, Steven A. Ballmer ajudou a derrubar gigantes da tecnologia que eram mais velhas e lentas, como Digital Equipment Corporation, Wang e Novell.

Agora é a vez da Microsoft se defender das empresas jovens, enquanto luta para competir em um mundo da computação cada vez mais móvel e baseado em uma "nuvem" de computadores conectados à internet, à qual muitos clientes têm acesso simultaneamente. Tudo faz parte do inevitável ciclo de vida das companhias tecnológicas.

"A interrupção é a característica que define esta indústria", disse Aaron Levie, executivo-chefe da Box, empresa de armazenamento de dados on-line. "Você pode até ter um quase monopólio, como a Microsoft teve, mas aí tudo é redefinido."

Timothy A. Clary - 25.out.2012/AFP
Diretor da Microsoft Steve Ballmer fala durante lançamento do Windows 8, em Nova York
Diretor da Microsoft Steve Ballmer fala durante lançamento do Windows 8, em Nova York

Ballmer não terá de levar a Microsoft para o futuro. Em 23 de agosto, ele anunciou que se aposentará dentro de um ano. Mas jovens executivos como Levie não estão desfrutando a saída de Ballmer. Eles sabem que um dia --se tiverem a sorte de ter tanto sucesso quanto Ballmer-- poderão enfrentar o mesmo problema.

"Isso apenas alimenta meu sentido já saudável de paranoia", disse Levie.

É rara a companhia tecnológica que consegue prosperar de uma geração de tecnologia para a seguinte. Apenas algumas grandes o fizeram, como IBM, Intel e Apple. Ainda não está claro se a Microsoft tem o caminho livre para entrar nessa lista de líderes por várias gerações.

Ballmer esteve intimamente ligado com a revolução do computador pessoal e, mais tarde, com o software corporativo que rodava em servidores de redes de computadores. Essas inovações trouxeram para a Microsoft dinheiro e talento para se adaptar ao início da internet com o navegador Explorer e para se diversificar nos jogos on-line.

O que Ballmer não conseguiu comprar, diz a geração mais jovem, foi uma clara visão do futuro. Apple e Google lideraram o desenvolvimento dos smartphones e uma longa lista de companhias, como Amazon.com, lideraram o desenvolvimento da computação em nuvem. Enquanto isso, a Microsoft muitas vezes teve de correr atrás.

"Toda a tecnologia aspira a ser um legado", disse Scott Dietzen, executivo-chefe da Pure Storage, novata de armazenamento de dados. "É isso ou a obsolescência."

Durante o mandato de Ballmer como executivo-chefe da Microsoft, a empresa teve um crescimento considerável. Ele liderou a criação do sistema operacional Windows Phone, que recebeu boas críticas, mas teve de lutar para conseguir tração no mercado.

Também sob sua liderança, a companhia adquiriu o Skype, um serviço de comunicações na internet, por US$ 8,5 bilhões, e pagou US$ 1,2 bilhão pela Yammer, uma rede social para empresas.

Mas os verdadeiros avanços, fossem em pesquisas, smartphones ou softwares, geralmente aconteceram em outros lugares.

HISTÓRIA

Ballmer entrou para a Microsoft em 1980. Seu software pioneiro, o Windows 3.0, foi lançado em 1990. Sua ação atingiu o pico em dezembro de 1999, pouco antes de Ballmer substituir Bill Gates, cofundador da Microsoft e seu amigo íntimo, como executivo-chefe. Desde então, as ações da Microsoft caíram cerca de 33%.

A Microsoft tem 38 anos, faltando três para a idade em que a Digital Equipment e a Wang desapareceram. A Novell, fundada em 1979, foi adquirida em 2011 pelo grupo de investimentos Attachmate Corporation.

"Ele pegou uma companhia com US$ 20 bilhões de receitas e a transformou em uma de US$ 78 bilhões", disse Levie. "Mas você nunca pode contar com mais de uma década no topo."
Essa sensação de que o sucesso de verdade dura mais ou menos uma década persegue até os mais bem-sucedidos na nova geração de executivos tecnológicos.

Alguns dizem que, embora Ballmer tenha tentado mover a Microsoft além do PC, ele deixou de realmente compreender quão profundas e amplas seriam as mudanças para a nuvem e o celular.

"A Microsoft tinha telefones, tinha tablets, mas tentou colocar o Windows neles", disse Zach Nelson, executivo-chefe da NetSuite, fabricante de software para empresas baseadas na web. "Eles não conseguiram deixar para trás o mundo do PC, apesar de verem que a mudança estava chegando."

Mas a pergunta é: e agora?

"Você pode imaginar um mundo sem o Windows, mas não sem a rede, portanto, parece que a nuvem não vai desaparecer", disse Nelson. "Nós estamos no meio de onde o mundo irá."

"Não posso dizer que seja a última arquitetura da computação", disse ele. "É a minha última. O PC foi a última de Ballmer."


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