Folha de S. Paulo


Extrativismo amazônico deveria ter alcance maior, dizem especialistas

O extrativismo é parte essencial da história e da economia amazônicas, mas a atividade está longe do seu potencial e precisa de políticas públicas e pesquisa para ser aperfeiçoada.

Esse foi o consenso do painel que discutiu o assunto durante o seminário O Futuro da Amazônia, realizado na segunda (27) em Manaus.

Para Helder Lima de Queiroz, diretor do Instituto de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá, no Amazonas, o extrativismo feito de forma precária, ilegal e sem valor agregado é apenas parte da história. "Há preconceito em relação ao extrativismo, como se tivéssemos vergonha das nossas identidades e da relação com a natureza."

Principais produtos do extrativismo produzidos na região norte - Em 2016, em toneladas

Participação do extrativismo no PIB dos Estados da Amazônia -

Nesse contexto, a incorporação de tecnologias e o acesso a novos mercados poderiam revigorar o papel do extrativismo em uma região que carece de desenvolvimento social e econômico.

Queiroz citou o manejo do pirarucu, implantado em 1999 pelo Instituto Mamirauá na região de Tefé (520 km de Manaus), como exemplo de extrativismo que está dando certo. Desde que o projeto começou, houve aumento na renda dos pescadores da região e, ao mesmo tempo, uma recuperação de 447% no estoque natural da espécie.

Na avaliação do diretor do instituto, a experiência é prova de que a atividade pode ter mantidas suas características sociais e ampliar o valor econômico desde que feita com controle adequado.

Segundo Eduardo Leão, secretário-adjunto de Desenvolvimento Econômico, Mineração e Energia do Pará, é preciso fomentar o empreendedorismo com políticas públicas para que o extrativista consiga oferecer produtos de maior valor agregado a partir daquilo que coleta.

"O extrativismo faz parte da gente e pode ser sustentável, se tornando mais eficiente e se desenvolvendo em áreas já abertas, sem precisar derrubar floresta", disse.

MARCA AMAZÔNIA

Leão afirmou ainda que um dos gargalos para o crescimento do extrativismo é que "a marca Amazônia está muito deturpada".

"O mercado europeu está boicotando a madeira do Pará porque a associa ao desmatamento, trabalho infantil, escravo. Isso é um conceito errado. Se você tirar o emprego desse cara, aí que vai ser mais difícil segurar o desmatamento ilegal", disse.

De acordo com o Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), o Pará foi o Estado que mais desmatou neste ano, com 36% dos 6.624 km2 de floresta amazônica destruída entre agosto de 2016 e julho de 2017.

O secretário-executivo de Estratégia Organizacional do Banco da Amazônia, Antônio Carlos de Lima Borges, afirmou que o incentivo ao extrativismo sustentável é uma das prioridades da instituição, mas que os projetos precisam ser melhor estruturados para demonstrar viabilidade.

"A sustentabilidade não é só social e ambiental, precisa ser econômica também."


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