Folha de S. Paulo


Cidades da Amazônia são desiguais e insalubres, afirmam especialistas

Mal administradas, desiguais e insalubres, as cidades da Amazônia sofrem há décadas com gestões ineficientes, sem sinais recentes de melhoria.

O diagnóstico duro foi unanimidade entre os participantes da mesa sobre urbanização, parte do seminário O Futuro da Amazônia, realizado nesta segunda-feira (27) na capital amazonense. O evento é organizado pela Folha e tem o patrocínio da Manaus Ambiental e da Manaus Luz, com apoio do Banco da Amazônia.

"Mesmo nas cidades pequenas do Amazonas, temos problemas de poluição hídrica, de degradação em áreas de igarapé porque não temos saneamento básico", afirmou a geógrafa Tatiana Schor, da Universidade Federal do Amazonas (Ufam). "Só dá para entender na chave do descaso secular."

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Enfocando Manaus, o presidente do Conselho de Arquitetura e Urbanismo do Amazonas (CAU/AM), Jaime Kuck, afirmou que a cidade de cerca de 2,1 milhões de habitantes se espalhou demais, provocando falta de recursos para infraestrutura, como transporte e saneamento.

"O crescimento superficial de Manaus foi três vezes maior do que o populacional. Na década de 1960, tínhamos mais de cem habitantes por hectare. Hoje, temos menos de 40 habitantes por hectares. Isso exigiu uma demanda por infraestrutura extraordinária, com um alto custo", avaliou.

O arquiteto citou uma pesquisa do Instituto Trata Brasil segundo o qual apenas 9,9% dos domicílios da cidade estão ligados.

De acordo com o instituto, a região Norte é a mais atrasada do país em relação ao saneamento. Sete das dez piores cidades nesse quesito estão localizadas na Amazônia, incluindo Manaus.

Outra consequência desse crescimento descontrolado, segundo Kuck, é a criação de uma "ilha de calor" na cidade devido à diminuição de áreas verdes para a chegada do asfalto e do concreto. "Manaus é diferente de Curitiba, onde esse aumento de temperatura é compensado no inverno."

Na avaliação do geógrafo Reinaldo Corrêa Costa, pesquisador do Inpa (Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia), o resultado da histórica falta de planejamento de Manaus é uma cidade insalubre, com alta ocorrência de doenças como leptospirose, diarréia, hepatite e dengue.

Costa acredita que a solução passa pela "setorização da cidade" por temas, com o envolvimento de profissionais e sob a coordenação dos poderes públicos.

Em sua fala, Schor diz que o futuro da Amazônia e do Brasil precisa ser "democrático, diverso, plural e inclusivo". Seguindo essa linha, ela criticou a ausência, entre os debatedores do seminário, de indígenas, extrativistas e movimentos sociais urbanos, além da pouca presença de mulheres.

"A pluralidade de opinião não é só das instituições, não fazemos o futuro", disse a geógrafa. "Precisamos aprender a ouvir todas as vozes do Brasil."


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