Folha de S. Paulo


Economista é vaiado ao falar que país desperdiça dinheiro com Zona Franca

Os gastos do país com a manutenção da Zona Franca de Manaus provocou discussão entre especialistas e autoridades durante debate sobre os 50 anos da implantação daquele polo industrial.

Roberto Castello Branco, economista e diretor da FGV Crescimento e Desenvolvimento, centro de estudos da Fundação Getúlio Vargas, foi vaiado pelo público ao afirmar que a ZF representou um desperdício de dinheiro para o país.

Segundo ele, os custos sociais do polo industrial alocado em Manaus, que recebe incentivos fiscais do governo federal, são elevados e trazem benefícios questionáveis.

"Em 2016, o custo da Zona Franca foi de 20% dos gastos com educação ou saúde, de 6,6 vezes os incentivos com inovação e pesquisa e de 2,2 vezes os gastos do governo com segurança pública", afirmou, citando dados do Ministério da Fazenda.

Ao mesmo tempo, disse Castello Branco, a renda média dos habitantes da capital amazonense está entre as mais baixas do país, além de a região enfrentar problemas graves de saneamento básico e ter baixo rendimento per capita.

Castello Branco criticou ainda o fato de o polo não exportar seus produtos e produzir apenas bens duráveis, sujeitos à volatilidade dos ciclos econômicos. "Cinquenta anos é tempo suficiente para avaliar os resultados de um projeto. O Brasil moderno não suporta mais que se tire recursos da sociedade para fazer gastos improdutivos."

O economista defendeu uma retirada gradual dos incentivos dados à região ao longo dos próximos dez anos e sua substituição pelo investimento de recursos públicos e parcerias com a iniciativa privada.

O prefeito de Manaus (PSDB-AM), Arthur Virgílio, o superintendente da Zona Franca de Manaus, Appio da Silva Tolentino, e o vice-presidente da Federação das Indústrias do Estado do Amazonas, Nelson Azevedo, que também integravam a mesa, rebateram as afirmações.

Virgílio disse que a visão do economista estava equivocada e recebeu aplausos ao afirmar que os recursos gerados pela Zona Franca foram os principais responsáveis pela manutenção de 98% da floresta nativa do Estado e que o polo industrial financia a vida dos amazonenses do interior do Estado.

O prefeito, no entanto, admitiu a existência de defeitos que precisam ser corrigidos. "Devemos virar também um polo exportador de produtos, e para isso precisamos de um projeto nacional de inovação tecnológica e de formação de mão de obra. É necessário investir na telefonia celular, na infraestrutura de internet da região e em hidrovias, que barateariam o custo do transporte no Estado."

O superintendente da Zona Franca, Appio da Silva, defendeu que o custo do projeto para o governo federal não é elevado, pois ajudaria a passar uma boa imagem do país para o exterior.

Segundo Appio, os recursos gerados no polo são usados na manutenção de reservas indígenas, da biodiversidade, na limpeza de rios e na redução da desigualdade social na região. "Isso ocorre hoje graças ao modelo de crescimento econômico e desenvolvimento ambiental que é a Zona Franca de Manaus."

Nelson Azevedo declarou que o economista da FGV demonstrou não conhecer a região e lamentou haver um formador de opinião com visão tão negativa e, segundo ele, incorreta sobre a Zona Franca.

"Esse modelo da Zona Franca, por incrível que pareça, é nossa única fonte de riqueza. Sem ele nós não temos alternativa, infelizmente."


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