Folha de S. Paulo


Turismo amazônico enfrenta entraves burocráticos e logísticos para crescer

Apesar de todo o potencial turístico, a Amazônia ainda tem sérias dificuldades de colocar em prática estratégias para desenvolver essa atividade.

A capacitação de famílias ribeirinhas para um turismo de base comunitária, a superação das dificuldades de logística impostas pela floresta e a obtenção de financiamento público e privado estão entre os principais desafios para desenvolver um turismo sustentável na Amazônia – sustentável não só do ponto de vista ambiental, mas também econômico.

Além das características naturais da floresta que dificultam, por exemplo, o fortalecimento do turismo de selva, entraves burocráticos como licenças ambientais e legalização de ribeirinhos que pilotam embarcações emperram o setor. Tanto piloto quanto os barcos precisam estar habilitados pela Marinha.

Para eles, contudo, apesar das dificuldades, o turismo ainda é uma atividade economicamente viável e de menor impacto ao ambiente, com alto valor agregado que beneficia todos os atores envolvidos, de famílias ribeirinhas a empresários de uma agência ou um hotel.

No modelo desenvolvido pelas próprias comunidades, o turista experimenta o modo de vida do homem da floresta. Muitas destas famílias moram dentro de unidades de conservação, como as RDS (Reservas de Desenvolvimento Sustentável), onde são proibidas atividades econômicas de alto impacto ambiental.

"Não estamos falando de um turismo de grande escala, mas da oportunidade de desenvolvimento local de comunidades carentes de políticas públicas adaptadas para sua realidade local e que, ao mesmo tempo, são as principais protagonistas na conservação da floresta", declarou Eduardo Taveira, superintendente técnico-científico da FAS (Fundação Amazonas Sustentável), que desenvolve projetos de turismo comunitário em Manaus e municípios vizinhos.

A afirmação foi feita durante a segunda mesa de debates do seminário O Futuro da Amazônia realizado pela Folha nesta segunda-feira (27), em Manaus. O evento acontece em parceria com a Manaus Ambiental e Manaus Luz, com apoio do Banco da Amazônia.

URBANIDADE E SELVA

O turismo de selva é outro segmento de grande potencial, porém pouco explorado. As dificuldades de logística fazem com que hotéis de selva tenham dificuldade para manter suas portas abertas.

"A gente tem problemas de acesso, internet, telefonia, geração de energia própria, de transporte para trazer turista, alimentos, funcionários", afirma Guto Costa Filho, sócio do Anavilhanas Jungle Lodge, hotel de selva localizado em Novo Airão. "Isso tudo é um grande desafio, mas, ao mesmo tempo, é um desafio para o qual os hotéis existentes no entorno de Manaus já criaram tecnologias para superar."

Com 400 ilhas, o Parque Nacional de Anavilhanas, em Novo Airão (115 km ao norte de Manaus) é um dos maiores arquipélagos de água doce do mundo.

Um dos principais cartões-postais da Amazônia, Manaus enfrenta o desafio de vencer suas carências em infraestrutura turística. A cidade tem como seus principais pontos turísticos o icônico Teatro Amazonas, o complexo da Ponta Negra e o encontro das águas do rios Negro e Solimões.

Para o diretor-presidente da Manauscult (Fundação Municipal de Cultura, Turismo e Evento), Bernardo Monteiro de Paula, Manaus precisa unir seus atrativos turísticos aos de outras cidades do Estado, como Novo Airão, Presidente Figueiredo e São Gabriel da Cachoeira _esta última localizada no Alto Rio Negro, na tríplice fronteira com Colômbia e Venezuela.

Bernardo Monteiro cita como avanços para fomentar o turismo urbano a revitalização de espaços no centro-antigo, incluindo o Mercado Municipal Adolpho Lisboa, na região portuária, e a praça da igreja da Matriz.

"A gente precisa se organizar e investir cada vez mais na infraestrutura turística e chamar a iniciativa privada para desenvolver um potencial maravilhoso desse", diz o gestor da Manauscult.


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