Folha de S. Paulo


Fotógrafo francês faz série de retratos de pessoas com doenças de pele

A intenção da exposição itinerante "Retratos de Peles" (Portraits de Peaux), do fotógrafo francês Guillaume Oliver, é dar voz e visibilidade a portadores de doenças de pele.

"Quando se fala de patologias cutâneas, a tendência é falar sobre produtos, medicamentos, como se não houvesse um indivíduo. Aqui, a ideia é revelar a pessoa, colocar o paciente à frente de sua doença e dar-lhe a palavra. Ouvir o que ele tem a dizer sobre sua experiência e permitir que se exprima tal qual ele é, não como a doença o mostra", diz o fotógrafo.

Exibida na França no final do ano passado, a exposição é a primeira etapa de um projeto ainda em curso.

"Esta série de retratos com pacientes portadores de dermatite atópica (inflamação cutânea que provoca coceira) está terminada (veja galeria). São pessoas que não estão numa fase de crise, mas que passaram por momentos difíceis, de sofrimento, de solidão e quiseram dar o seu testemunho", diz Oliver, que atualmente está fotografando e gravando o depoimento de pessoas com acne e rosácea.

"Quando o projeto estiver finalizado, exibiremos todas as imagens juntas, no tamanho real, com o áudio dos testemunhos", acrescenta Oliver. A exibição tem apoio da marca A-Derma, do grupo Pierre Fabre.

No estúdio, durante a sessão de fotos, o desejo do paciente é soberano: mostrar ou esconder o rosto, olhar ou não para a câmera, cobrir ou descobrir uma parte do corpo. Quem escolhe a pose, a roupa e a atitude é o modelo.

"Eu não imponho nada. O objetivo é fazer um retrato que traga um cuidado estético, sem esconder a doença. Às vezes é um olhar, um gesto. Eu tenho uma visão do meu projeto, do que eu quero dizer, então será uma troca", diz. Veja a entrevista.

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Folha - Qual é a importância de fotografar esses pacientes?
Guillaume Oliver - Revelar o que não se vê, mostrar que por trás da patologia há pessoas que sofrem. Ao fotografá-las, procuro abrir um espaço acolhedor no qual elas consigam se exprimir. Eu acho que não tiro uma foto, eu recebo uma foto. A partir daí me coloco como o guardião dessas pessoas, que confiam em mim para representar e defender sua imagem.

A exposição pode ajudar a diminuir o preconceito contra os portadores de doenças de pele?
Seria pretensioso da minha parte dizer que vai reduzir o preconceito. Se reduzir algum preconceito, já será uma pequena vitória. Como fotógrafo, eu me posiciono como sendo alguém que coloca a questão, eu não trago a resposta. Cabe ao espectador tirar a sua própria conclusão. Se a reação em relação a isso for 'daqui para frente vou ver os doentes de maneira diferente', melhor.

Como reuniu os pacientes?
Entrei em contato com a dermatologista Magali Bourrel-Bouttaz, que me ajudou a encontrá-los. Após a exposição, ela também fez um trabalho com os pacientes sobre a imagem que eles têm de si e o olhar do outro. Quando se é portador de uma doença grave que é visível, não queremos nos expor. As fotos permitiram que se deixassem ver e aceitassem o olhar dos outros por meio da exposição.

*O senhor pediu aos pacientes que se mostrassem como quisessem. Poderia falar mais sobre isso?
Ao propor as fotos, não peço que venham com uma roupa clara ou escura. Isso não me interessa, eu estaria mascarando as coisas com o meu olhar. Eu deixo que sobressaiam os atributos que eles me trazem. Também não digo como têm de posar. Quero que me proponham a sua visão da doença, como a vivenciam, como poderiam exprimi-la. Às vezes é um olhar, uma postura.

Poderia dar algum exemplo dessa troca?
Na exposição, há o retrato de uma moça que vira o rosto e coça o pescoço. Ela contou que esse gesto identifica uma possível crise do eczema [tipo de inflamação persistente da pele]: 'Quando estou com a minha família e me coço assim eles falam 'ah você vai ter uma crise''. São eles que me apresentam alguma coisa.

Os pacientes estiveram presentes na exposição? Como reagiram?
Sim, organizei uma exposição em Paris e convidei todos. Foi a primeira vez que viram a sua fotografia ampliada, que conheceram o projeto como um todo e que se encontraram. A maior parte tinha o mesmo médico, mas não se conhecia. Alguns ficaram emocionados ao se verem nas fotos. Outros disseram que se reconheciam em cada um dos retratos, e em cada depoimento. Entretanto, não tive sempre bons retornos. Duas pessoas que passaram por lá se recusaram a ver a exposição. Uma delas estava doente e outra era pai de um paciente. Para eles, era muito complicado admitir o fato de estar doente e de que nós mostramos isso.

Depois de finalizada esta etapa, o que a exposição trouxe para o senhor?
Eu me alimento desses encontros, dessa curiosidade em relação às pessoas. Para mim, o ser humano é o planeta que temos de descobrir hoje em dia. Permitir que esses pacientes possam dividir suas experiências com outras pessoas que sofrem solitárias, no seu canto, e que, ao se dar conta de que não estão sós, possam viver melhor.


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