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Moda contra acne nas redes sociais tem respaldo científico

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Deitada na cama, vestindo moletom, a atriz Lena Dunham aparece no Instagram com uma máscara que parece saída de "Star Wars": um material branco cobre quase todo o rosto, com uma fenda na região dos olhos onde se vê uma luz lilás. A legenda explica o figurino: um tratamento para a acne pelo qual ela está "obcecada".

A atriz Mindy Kaling é outra entusiasta do uso de luz LED, de baixa potência, sobre áreas afetadas: a luz azul mata bactérias e a vermelha tem ação anti-inflamatória.

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Juntas, as duas luzes formam o clarão arroxeado da máscara de Dunham, da marca Neutrogena, que não tem previsão de chegada ao Brasil –nos EUA, foi lançada no fim de 2016 e é vendida por US$ 35 (R$ 111) em farmácias.

Segundo dermatologistas, a moda das redes sociais tem respaldo científico. As luzes são boas para a acne, sim, mas não milagrosas. "Ajudam na melhora mais rápida das lesões, na reparação da pele e reduzem o risco de cicatrizes", afirma o dermatologista Luiz Roberto Terzian.

Giselle Vergamini, do Hospital Albert Einstein, diz que o LED ajuda a tratar a acne leve ou moderada, com poucas lesões inflamatórias. "Você tem ação na diminuição da colonização bacteriana da pele, mas não tem efeito comedolítico". Em bom português: não ajuda a limpar os comedões, ou cravos, da pele.

Para um tratamento completo é preciso associar as luzes com medicamentos.

VÁRIAS FRENTES

Quase todos têm em seu organismo as bactérias responsáveis pela acne. Nem todos, porém, dão a elas o ambiente ideal: alimento (queratina e sebo) e falta de oxigênio. Se isso acontece dentro de um folículo, elas se reproduzem mais e inflamam o local.

Com exceção da isotretinoína oral (o famoso "roacutan") não há terapias que ofereçam cura ou deem conta do recado sozinhas. "É uma doença com múltiplos fatores desencadeantes, dificilmente você trata adequadamente com uma medida única", afirma Edileia Bagatin, chefe do departamento de dermatologia da Unifesp.

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"Os tratamentos devem afinar a pele para desobstruir, reduzir a inflamação, matar as bactérias e reduzir a produção do sebo", diz Terzian.

Sabonetes, tônicos adstringentes, antibióticos e ácidos formam o arsenal tradicional. "Os medicamentos se tornaram muito eficientes de 35 anos para cá", diz a dermatologista Ligia Kogos. "Os grandes clássicos permanecem."

A escolha da terapia depende do grau de comprometimento da pele. Para acne leve e moderada, começa-se com tratamento tópico –os remédios mais recentes já contêm uma combinação de ativos. "O que é mais comum é uma associação de antibiótico tópico a outros agentes, como peróxido de benzoíla, ácido retinoico, ácido salicílico, ácido azelaico ou nicotinamida", diz Vergamini.

A combinação também depende bastante do médico. Kogos, por exemplo, não receita o peróxido de benzoíla ("sensibiliza muito, não chega a resolver o problema e mancha o rosto"). Para Vergamini, a substância tem atividade antibacteriana e reduz a espessura da pele, ajudando a tirar cravos.

Outra alternativa popular, os retinoides inibem a formação de comedões, mas alguns irritam a pele. Novas gerações são mais toleráveis.

Acnes leves normalmente se resolvem com esse tratamento tópico, diz a dermatologista Luciane Scattone. Se não der certo, entram medicamentos via oral –antibióticos ou remédios para controlar o hormônio masculino, que contribui para a oleosidade da pele.

É possível ajudar o tratamento com limpezas de pele e peelings. Opções agressivas, mais em voga nos EUA, como a terapia fotodinâmica ou o uso de nitrogênio líquido, não são recomendadas pelos médicos consultados.
Na primeira terapia, a pele recebe um agente fotossensibilizante e é exposta a uma fonte de luz, para reduzir as glândulas sebáceas e matar a bactéria que causa a acne.

Já o nitrogênio esfoliaria a pele, ajudando a tirar os comedões. "É muito agressivo, a gente fica naqueles peelings mesmo", diz Scattone, em referência ao de ácido salicílico e ao de ácido retinoico.

NA FARMÁCIA

Produtos sem tarja vermelha e indicados para pele oleosa não costumam oferecer riscos. Uma moda direto das prateleiras de farmácias é a água micelar. "Tem partículas que absorvem a gordura. Não substitui o sabonete, mas complementa", diz Scattone.

Sabonetes "clássicos" antioleosidade –aqueles com enxofre, zinco, ácido salicílico– também ajudam muito.

"Acne precisa de uma ação forte. Nossas avós usavam leite de colônia, leite de rosas, e não estavam erradas. São loções alcoólicas com alto teor de limpeza", afirma Kogos.

Maquiagem não é inimiga da pele acneica. "É mito que mulher com acne não pode usar. É coisa do passado, de quando as maquiagens eram gordurosas", diz Bagatin. Uma base matificante até ajuda a controlar a oleosidade.

Terzian ressalta que os produtos mais eficientes têm tarja vermelha, que deveriam ser vendidos só sob prescrição. "Infelizmente, na maioria das farmácias do Brasil são vendidos sem receita, o que coloca a população em risco."


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