Folha de S. Paulo


Empresas devem pensar na reciclagem no desenvolvimento da embalagem

Segunda mesa do primeiro dia do 2º Forum de Economia Limpa

Lojas e supermercados estão repletos de novidades todas as semanas, cada uma embrulhada em embalagens planejadas para atrair o consumidor. Os recipientes, no entanto, nem sempre possibilitam que o descarte tenha um destino correto e não prejudicial para o ambiente.

"Precisamos de uma sensibilidade maior da indústria. Não basta lançar o produto, a empresa deve verificar com as cooperativas se a novidade tem valor para voltar à cadeia produtiva", disse Wilson Santos, coordenador de projeto de sustentabilidade da Cooper Vira-lata, de São Paulo, durante debate sobre reciclagem no 2º Fórum Economia Limpa.

Realizado pela Folha, o evento acontece nesta terça (3) e quarta (4), no Tucarena, em São Paulo, com o patrocínio da Abralatas (Associação Brasileira de Fabricantes de Latas de Alumínio).

Segundo Carolina Tarrío, jornalista e uma das criadoras da página "Gostamos de leite. De lixo, não", há um problema em como o brasileiro vê a embalagem.

"O cliente se sente prestigiado quando ganha uma sacolinha para levar as compras e o comerciante se sente o melhor profissional do mundo."

Em agosto deste ano, Carolina Tarrío e outras duas consumidoras de uma mesma marca de leite foram até uma fábrica devolver 365 garrafas de plástico vazias. A Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS) diz que empresas também são responsáveis pelo descarte do que produz.

"Como a gente descarta, não percebemos a quantidade que acumulamos. Quando você junta essas embalagens passa a ter ideia de tudo o que consome e joga fora."

A ação serviu principalmente para sensibilizar a empresa sobre necessidade de dar um destino para as embalagens, disse ela. "Conforme o plástico vai sendo reciclado, ele perde qualidade e chega um momento em que não tem mais para onde ir. Deveríamos recusar embalagens plásticas."

A jornalista lembrou um estudo recente, realizado pela organização internacional Orb Media, sobre a onipresença das micropartículas de plástico na água de países do mundo todo.

O levantamento, que teve a participação da Folha, revelou que a água de torneira de cidades dos cinco continentes está contaminada com microplástico. Das 159 amostras de água potável coletadas, 83% continham plástico.

Ronaldo Stabile, vice-presidente da Abrin (Associação Brasileira de Reciclagem e Inovação), disse que, no caso do plástico para embalagens, um dos problemas é que quem faz o projeto muitas vezes não considera a possibilidade de reciclagem.

Segundo Stabile, desde que o projeto de design já pense no aproveitamento, o plástico é um problema, mas não um inimigo.


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