Folha de S. Paulo


Desenvolvimento sustentável deve ser pensado como um meio de vida

A ex-ministra Marina Silva, na abertura do 2º Forum Economia Limpa

O grande desafio de pensar o desenvolvimento sustentável é entendê-lo como um ideal de vida e não apenas como uma maneira de encarar as decisões com mais respeito ao meio ambiente.

A afirmativa, da ex-ministra do Meio Ambiente Marina Silva (Rede), foi feita na abertura do 2º Fórum Economia Limpa, promovido pela Folha, com patrocínio da Abralatas (Associação Brasileira de Fabricantes de Latas de Alumínio).

Reinaldo Canato/Folhapress
A ex-ministra Marina Silva participa do 2 Fórum de Energia Limpa da Folha de S.Paulo
A ex-ministra Marina Silva participa do 2 Fórum de Energia Limpa da Folha de S.Paulo

Marina falou sobre a importância de formular um modelo de desenvolvimento que seja sustentável em todas as suas dimensões (econômica, social, ambiental e cultural) e enfatizou o papel decisivo da cultura. Para ela, preservar a diversidade cultural é essencial.

"Um modelo de desenvolvimento em que as coisas vão se tornando cada vez mais homogêneas não é sustentável porque o que faz com que as coisas tenham uma dinâmica criativa, produtiva e livre é a diversidade."

Como exemplo, Marina citou o bioma da Amazônia. "O que funciona lá é a diversidade. Tem espaço para o grande agricultor, para o pequeno, para o extrativismo, para o turismo e várias atividades produtivas."

A ex-ministra acrescentou mais três dimensões que, na sua análise, são necessárias na formação de um modelo sustentável: a política, a ética e a estética. "Muitas vezes, a decisão de pagar bônus sem base na realidade, a decisão de considerar títulos podres em títulos AAA+ para ter vantagens de mercado, o que levou à crise de 2008, é política."

Segundo ela, já existe capacidade técnica para gerar energia mais limpa, para investir em uma estrutura mais sustentável e para produzir alimento em quantidade suficiente para alimentar a todos, mas isso não pauta a tomada de decisões dos políticos justamente pela falta de ética.

"A política no Brasil está no fundo do bolso. A Lava Jato mostrou que não há leis equivocadas, há leis compradas", afirmou a ex-petista.

Em relação ao campo estético, Marina falou sobre a importância de entender o valor "intangível" inerente ao ser humano e, consequentemente, ao ambiente. "Tem coisas que devem ser preservadas pelo seu valor estético. Ninguém aceitaria transformar o Pão de Açúcar em brita."

DESAFIOS

Marina salientou que, para que a estruturação de um novo modelo seja bem sucedida, é necessário acabar com as iniquidades sociais. "A injustiça social não se expressa só pela falta do que comer, ela se expressa também na distribuição de energia. Os cidadãos de países de renda alta consomem 11 vezes mais energia que pessoas de países pobres".

Outro desafio apontado por ela é o uso sustentável dos recursos naturais. A ex-ministra alertou que o modelo de desenvolvimento adotado até agora já impactou o planeta em cerca de 30% acima de sua capacidade de regenerar-se.

O terceiro desafio é buscar um caminho para que as emissões de CO2 não ultrapassem os 2ºC de aumento de temperatura da Terra, meta estabelecida pelo Acordo de Paris.

Contudo, a média das emissões para que se alcance essa meta deve ser de 11 giga toneladas por ano ano até 2100. Hoje, a média é de 50 gigatoneladas por ano.

Nesse ritmo, atingiremos o limite de emissões em 2030.


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