Folha de S. Paulo


Formação específica inicial e continuada gera bom gestor de escola

O governo paulista deve anunciar em novembro um grupo de novos diretores de escola estaduais selecionados, pela primeira vez, a partir de um exame que, além de conteúdo e de titulação, buscou avaliar características de liderança dos candidatos –os aspectos "não cognitivos".

O concurso inovador, que atraiu 44 mil inscritos para 1.878 vagas, surgiu após um levantamento mostrar que boas escolas públicas têm líderes bem preparados: pessoas com capacidade de gerenciamento, de resolução de conflitos e de comunicação.

Alberto Rocha/Folhapress
Ex-presidente Barack Obama (EUA) e o príncipe Harry assistem partida de basquete de cadeira de rodas dos Jogos Invictus, em Toronto
Ariovaldo Guinther, diretor da Ítalo Betarello, a melhor escola pública de SP

"Há escolas funcionando a todo vapor com alunos comprometidos", diz José Renato Nalini, secretário de Estado da Educação. "E isso quase sempre está ligado à direção."

O problema é que, no Brasil, essa figura central na educação não tem formação específica. Nos EUA, diretores de escola fazem uma pós-graduação voltada para o cargo.

"A gestão de escolas é um trabalho complexo que exige muito preparo", diz Donald Peurach, especialista em liderança na educação da Universidade de Michigan (EUA).

No Brasil, para concorrer à vaga de direção escolar via concurso público, eleição na escola ou indicação da secretaria de ensino (os três caminhos para chegar ao posto) a exigência é o diploma de pedagogia –não é suficiente.

"O preparo para a gestão deveria estar na formação inicial do pedagogo", diz o economista Ricardo Henriques, superintendente executivo do Instituto Unibanco.

A instituição também defende a formação continuada para diretores em exercício na escola –e inclusive oferece um programa nesse sentido, o Jovem de Futuro.

A proposta começou há dez anos. Em parceria com secretarias da Educação de diferentes Estados, o instituto dá formação e instrumentos para quem participa da gestão escolar. Ao todo, 958 colégios públicos participaram do projeto –a ideia é alcançar 2.500 no fim de 2018.

AULAS LEGAIS

Para Peurach, dos EUA, um bom diretor trabalha com metas claras. "É um profissional que ouve diferentes pessoas e que propõe soluções viáveis no sistema público", acrescenta Henriques (no Brasil, o diretor não tem, por exemplo, autonomia para demitir).

É isso –ouvir diferentes pessoas– que Ariovaldo Guinther, 39, diretor da escola estadual Ítalo Betarello (na zona norte de São Paulo) diz que tem feito. Ele reduziu as faltas no ensino médio noturno trazendo para a escola uma demanda dos próprios alunos: aulas mais legais.

"Temos que competir com o que existe fora da escola, e a concorrência é grande", diz.

Uma das ideias foi criar cursos mais atrativos, como de gastronomia e o coral –oferecidos pelos próprios professores da escola. O colégio saiu de um patamar de um ou dois alunos por aula para 85% de presença, em média.

AUMENTO NA NOTA

A nota dos estudantes do ensino médio no Idesp, exame que avalia as escolas do Estado, passou de 3,75 (em 2015) para 6,04 (em 2016) –a melhor da capital paulista.

Os recursos extras para as aulas ele conseguiu no MEC, por meio de projetos que escreveu ao programa Ensino Médio Inovador, que repassa verba para atividades de pesquisa e artes, entre outras.

"Consegui montar uma equipe que me ajuda", diz Guinther. A vice-diretora da escola é especialista em prestação de contas ao MEC –uma das dificuldades enfrentadas pelas escolas que submetem projetos à pasta.

Guinther foi professor de matemática e coordenador pedagógico antes de assumir o colégio, com 1.562 alunos, há seis anos. A estabilidade dos gestores no cargo é justamente um dos pontos de sucesso de escolas na Finlândia, país com o melhor sistema de ensino do mundo.

No Brasil, diretores indicados para o cargo tendem a deixar o posto conforme a situação política.

O acompanhamento periódico dos gestores é outra dificuldade local. O governo paulista diz que pretende avaliar "por alguns anos" o grupo de novos diretores.

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44 mil candidatos a diretor concorreram a 1.878 vagas no Estado de São Paulo

1.562 é o total de alunos matriculados na Italo Betarello, a melhor escola pública de SP


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