Folha de S. Paulo


Gestor escolar precisa de formação específica, dizem especialistas

Os atuais cursos de pedagogia e licenciatura não preparam os profissionais para se tornar um gestor de escola. Para profissionalizar a atividade, é preciso aprimorar a formação do educador ensinando também competências de administração escolar.

O diagnóstico foi consenso na mesa sobre estratégias de formação para a gestão escolar, realizada nesta quinta (28), segundo dia do seminário promovido pela Folha, o Instituto Unibanco e Consed (Conselho Nacional de Secretários de Educação.

Participaram do debate Alexsandro Santos, gerente de desenvolvimento em soluções do Instituto Unibanco; Laurinda Almeida, vice-coordenadora de pós-graduação em Educação da PUC-SP, e Elaine Hine, do conselho diretor do Leading Student Achievement (LSA), um projeto de formação de diretores em Ontário, no Canadá. A mesa foi mediada por Ana Maria Diniz, presidente do conselho do Instituto Península.

De acordo com Santos, a falta de definição sobre quais competências devem ser ensinadas aos estudantes é uma barreira para melhorar a formação dos gestores no Brasil.

Hoje, o Enade (prova que testa conhecimentos adquiridos no curso de graduação) estabelece 14 competências necessárias ao formando do curso de pedagogia. Cinco delas dizem respeito à gestão escolar.

Santos criticou a forma como a avaliação é feita. "As questões são teóricas e excessivamente genéricas. Não há desafios de gestão para o aluno desenvolver."

O conteúdo ensinado, segundo ele, devia fazer com que o aluno seja capaz de elaborar estratégias para problemas comuns do dia a dia da direção, como as faltas frequentes de um professor.

"Os instrumentos oferecidos pela secretaria para lidar com o problema [do professor que falta] não são suficientes. Temos que ensinar o aluno a criar uma estratégia alternativa", afirmou.

Para Laurinda Almeida, a principal competência a ser ensinada ao gestor é a maneira de mobilizar estudantes e professores em ambiente escolar, algo que deve ser aprendido na prática.

"O diretor não precisa ser encarado como alguém que tem respostas certas para todos os problemas, mas alguém que sabe investigar as causas e procurar soluções."

AVANÇOS TRAVADOS

De acordo com Santos, há um esforço no país para definir as matrizes de ensino para o gestor.

O Plano Nacional de Educação, lançado em 2014, prevê que o Brasil vai desenvolver programas de formação de diretores e passar a aplicar uma prova nacional específica para avaliar a preparação dos profissionais.

A partir disso, um programa nacional para certificar diretores chegou ser apresentado pelo Ministério da Educação em 2015, mas o projeto ficou estagnado em razão da turbulência política que culminou com o impeachment da presidente Dilma Rousseff em 2016.

Apesar do passo ter sido considerado um avanço, Santos afirma que os conteúdos especificados no programa ainda precisam ser aprimorados.

"O conteúdo é dividido em cinco domínios, mas ainda é muito genérico. Diz, por exemplo, que os conselhos estudantis devem funcionar, mas não diz de que forma o diretor pode garantir isso."

EXPERIÊNCIA INTERNACIONAL

Durante a mesa, Elaine Hine relatou sua experiência à frente do projeto de formação de diretores em Ontário, no Canadá.

O Leading Student Achievement (LSA) foi criado em 2005 pelo conselho de gestores escolares, vinculado ao Ministério da Educação canadense, para criar uma rede de ensino de técnicas ligadas à gestão escolar.

A base do projeto é o ensino através de uma rede: líderes distritais "apadrinham" professores que desejam se tornar diretores para compartilhar problemas comuns e práticas bem-sucedidas nas escolas.

Um dos focos principais é a análise de dados. "Foi preciso ensinar aos futuros diretores não apenas como lidar e interpretar dados sobre gestão escolar, mas a importância de elaborar uma gestão baseada nesses dados", disse Hime.


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