Folha de S. Paulo


Gestor escolar precisa ter autonomia para decidir, dizem especialistas

Profissionalizar a gestão de escolas públicas e torná-las mais eficientes é um caminho importante para melhorar a qualidade do ensino público brasileiro.

Para isso, é preciso definir com mais clareza qual a função dos responsáveis pela gestão e dar aos diretores e aos coordenadores de ensino mais autonomia para identificar os desafios de cada unidade de ensino.

As questões foram levantadas na abertura do 3º Seminário de Gestão Escolar, promovido pelo Instituto Unibanco em parceria com a Folha e o Conselho Nacional de Secretários de Educação (Consed).

Participaram da mesa de abertura Pedro Malan, ex-ministro da Fazenda e vice-presidente do Instituto Unibanco, Vinicius Mota, secretário de Redação da Folha, e Idilvan Alencar, secretário de Educação do Ceará e presidente do Consed.

Em muitas escolas públicas, a gestão pedagógica e a administrativa são feitas por um único diretor ou coordenador, afirmou Alencar. A ausência de um assessor para a gestão financeira, segundo ele, muitas vezes faz com que os responsáveis pelo ensino sejam deslocados de uma função para suprir essa deficiência.

"Às vezes você tem uma escola que é bem-sucedida na gestão administrativa, mas na gestão pedagógica começa a dever. É preciso definir as competências dos gestores até para conseguir avaliar essas questões", disse.

O jornalista Vinicius Mota afirmou que "se o papel do professor está bastante definido, ainda há ruído demais quando discutimos o que esperar do gestor". "Ele lida com a infra-estrutura? É responsável pela escolha dos professores e o desempenho dos alunos? É o presidente do clube ou o técnico do time de futebol?".

Segundo os especialistas, a falta de definição do papel dos gestores faz com que a seleção do perfil adequado para ocupar cargos de direção e coordenação se torne uma tarefa difícil, assim como a cobrança de resultados.

AUTONOMIA

Os palestrantes também mencionaram a falta de autonomia como fator que prejudica a gestão de escolas.

De acordo com uma pesquisa feita pela OCDE (Organização para a Cooperação para o Desenvolvimento Econômico), os diretores brasileiros estão entre os que reportam ter menos autonomia para questões como contratar e demitir professores, gerir os orçamentos ou definir aumento salarial dos funcionários.

"Dados mostram que há pouca autonomia na gestão escolar brasileira, mas talvez seja preciso investir antes na capacitação desses profissionais", afirmou Mota.

Para Malan, dar autonomia ao diretor escolar qualificado é essencial para obter um ensino público de qualidade.

"O gestor tem que conseguir identificar o problema da sua escola, cada município enfrenta uma problemática de ensino distinto. Ele precisa ter a capacidade de responder a essas demandas individuais de uma forma adequada", disse.

O ex-ministro enfatizou a necessidade de investir em educação para que cada jovem tenha acesso a formação, na idade certa, e para que o Brasil não precise "adiar novamente seu encontro com o futuro".


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