Folha de S. Paulo


OPINIÃO

Dez ideias para melhorar o centro sem afetar o bolso do contribuinte

Projetos grandiosos de "revitalização" do centro de São Paulo se empilham na prefeitura, feitos por diferentes gestões, mas com resultados parecidos e bem modestos.
A sensação de insegurança deixa espaços desertos. Prédios se deterioram, a população de rua se multiplica e milhares de metros quadrados permanecem encalhados. Aqui, dez propostas rápidas para melhorar um pouco a vida no centro.

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ANHANGABAÚ À NOITE
O Anhangabaú poderia ser, à noite, aquilo em que a Paulista se transformou aos domingos –com música, esportes e pessoas caminhando. Para começar, é preciso acelerar a obra da praça das Artes, que faria jus ao nome: com eventos e apresentações.

Sem os problemas de barulho de outras áreas da cidade, a região favorece a instalação de bares e comércio. Já que o prefeito se orgulha do bom trânsito com o governo federal, poderia convencer os Correios a darem uso aos espaços ociosos de sua antiga (e restaurada) agência central. Promessas para instalar café, restaurante e auditório poderiam ser ressuscitadas.

FATIANDO PRÉDIOS
Projeto do empreendedor Baixo Ribeiro sugere que prédios vazios há muito tempo sejam reocupados por partes. Para ele, a infraestrutura é um grande gargalo para empresas se instalarem no centro.
"Poderia haver um plano de ocupação paulatina do imóvel. Primeiro andar e térreo, negócios com maior potencial de atendimento ao público. No segundo, escritórios compartilhados com necessidade de pouco espaço, mas muita conexão. Andares intermediários para residências de artistas, estudantes e moradia temporária de baixo custo."

PAPELADA ANTICENTRO
Se um restaurante nos Jardins chega a ficar cinco anos à espera de alvará dos Bombeiros, imagine o que ocorre com prédios antigos no centro, sem escadas externas ou portas corta-fogo. São vistorias tecnossubjetivas, laudos e mais laudos, órgãos (da segurança ao patrimônio) que não conversam, achaques de fiscais. Enquanto custar o triplo se instalar no centro, o resto da cidade terá vantagem.

MARKETING DAS FACHADAS
Imagine se a tela que cobre o Copan há anos, enquanto um restauro não vem, ostentasse o logotipo da empresa que patrocinasse limpeza e troca de pastilhas? Barcelona fez isso nos anos 1980, e 600 prédios foram restaurados. Dória ameaça afrouxar a Lei Cidade Limpa nas marginais, mas melhor seria manter a dureza e canalizar anunciantes para recuperar edifícios como o Trussardi, o Metrópole ou a Galeria Presidente. Prédios de importância histórica e arquitetônica poderiam também ganhar boa iluminação, patrocinada por empresas de iluminação ou eletricidade. Na lista dos que merecem mais holofotes estão o Itália, o ex-Mappin e o Martinelli.

VALORES CRISTÃOS
Igrejas neopentecostais abriram templos gigantes no centro. A Igreja Católica tem ali diversos imóveis subutilizados. Seguindo ensinamentos cristãos, poderiam manter abrigos permanentes, que não despejem as pessoas às 6h. Quem sabe possam competir pelo melhor tratamento para a população de rua. Em Nova York e Washington, elas tiveram papel fundamental contra a epidemia de crack nos anos 1980 e 1990.

MAIS LIMPEZA
É difícil falar em Cidade Linda quando a região que concentra a história paulistana tem lixo por todos os lados. Poderia haver campanhas e multas para sujões reincidentes.

MAIS VERDE
Prefeitos de ideologias variadas parecem só se importar com o Ibirapuera e o "parque" Augusta. O parque Dom Pedro 2º, que fará cem anos em 2022, tem o triplo do tamanho do terreno na Augusta. É vizinho do maior terminal de ônibus da cidade, com 240 mil passageiros/dia, e da estação de metrô homônima. Enquanto tanta empresa fala em sustentabilidade, o parque parece um terreno baldio -com uma passagem apelidada de "Faixa de Gaza".

SILÍCIO
Iniciativas que apoiam microempresas digitais têm ocorrido no centro, da Tech Sampa ao Mobilab. Se essa cena tiver onde se instalar, representará centenas de novos empregos na região. Para que moradores se beneficiem da virada tecnológica, é fundamental que surjam cursos de programação, inglês e matemática. Universidades privadas, com crescimento em boa parte alimentado por dinheiro público, poderiam oferecer formação a taxas camaradas. Prédio vazio não falta.

NAS ALTURAS
Poucas áreas pelo mundo com tantos arranha-céus têm tão poucos mirantes. Com exceção do veterano Itália e de festas no shopping Light, há poucas opções para ver São Paulo do alto. Os salões de festas dos edifícios Viadutos e Planalto, de Artacho Jurado, poderiam abrigar mais eventos diurnos. O Santander pode dar nova vida ao antigo Banespão, que lhe pertence. A pequena réplica do Empire State tem boa parte de seus 35 andares, mirante e saguão ociosos há anos.

PORTAS ABERTAS
Um projeto para ceder a Galeria Prestes Maia, vazia há 20 anos, ao Centro Cultural Banco do Brasil não foi adiante. O Tribunal de Justiça de SP voltou a dar vida ao antigo Hotel Hilton, vizinho à praça Roosevelt, mas a reabertura do belo teatro do prédio cilíndrico renovaria também os finais de semana da área.


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