Folha de S. Paulo


Estética e marketing negativo afastam empresas da região central

Mesa 3

A falta de apreciação da arquitetura e o marketing negativo que cerca a região estão entre os fatores que afastam empresas e pessoas da área central de São Paulo.

Apesar da criminalidade e da existência da cracolândia, há aspectos que deixam de ser devidamente valorizados, como a boa infraestrutura, o transporte público e a importância histórica e estética da região.

Para Fábio Luchetti, presidente da Porto Seguro, a grande maioria dos empreendimentos busca o padrão de regiões mais planejadas da cidade, aspiração difícil em um local que cresceu de forma desordenada, como o centro.

"Um campo de golfe é lindo, uma floresta é feia, porque é orgânica, vai se desenvolvendo com o tempo. Se a questão é estética, é um problema que não vai ser resolvido nunca. O centro é uma mistura de prédios antigos, alguns deles cicatrizes da cidade, e também prédios novos."

Luchetti falou durante a mesa sobre o papel dos investimentos privados na revitalização da região central, que contou também com o diretor do Sesc-SP Danilo Miranda, o presidente do Instituto dos Advogados de São Paulo (Iasp) José Horácio Halfeld e a professora de arquitetura da Escola da Cidade Fernanda Barbara.

O primeiro dia do evento ocorreu nesta terça (19); o segundo será nesta quarta-feira (20) no novo Sesc 24 de Maio, inaugurado há cerca de um mês na região central (veja a programação). O fórum é organizado pela Folha e patrocinado pela Porto Seguro, empresa atua há mais de 40 anos no bairro de Campos Elíseos.

Para Luchetti, o ideal seria que as pessoas deixassem de lado não só esse paradigma, mas também o medo exagerado da violência, que ele considera reforçado pela mídia.

O executivo sugere focar em questões concretas: "A região central tem a melhor infraestrutura de São Paulo, com estações de metrô próximas, ótima distribuição de luz e uma boa rede de fibra ótica".

Danilo Miranda, diretor do Sesc-SP, deu como exemplo de marketing positivo para a região central a campanha feita para o lançamento do próprio Sesc 24 de Maio.

"Fizemos um esforço para juntar a ideia de uma nova unidade com a revitalização. Trouxemos o Gilberto Gil aqui, ele fez um minishow e falou sobre o centro, isso teve uma visibilidade muito grande", disse. Segundo ele, o novo Sesc recebeu uma média de 12 mil pessoas por dia durante o mês do lançamento.

Miranda disse que a população anseia por mais fatos relevantes, como o Sesc, e defendeu que as autoridades criem campanhas de valorização da área.

É preciso garantir, porém, que a realidade reflita aquilo que um possível marketing positivo pode mostrar, principalmente em relação à presença de moradores de rua na região, afirmou José Horácio Halfeld, do Iasp (Instituto de Advogados de São Paulo).

"Quando saímos do trabalho, às 20h, já tem gente dormindo na escadaria do prédio. A gente nota que as pessoas têm um sentimento de repulsa por quem vive ali. A busca da segurança faz com que elas se afastem e deixem de procurar respostas para o problema."

O Iasp, cuja sede é na rua Líbero Badaró, foi responsável pela criação de um projeto de revitalização das praças da Sé e Clóvis Beviláqua apresentado recentemente à Prefeitura de São Paulo e orçado em R$ 100 milhões.

Criado pelo arquiteto Arthur Casas, o plano inclui a instalação de esculturas, gramados, parquinho, pista de skate e praça para food trucks.

A arquiteta Fernanda Barbara, professora da Escola da Cidade, destacou o caráter acolhedor da região, que recebe pessoas de diferentes etnias e faixas de renda, além de ser atualmente um polo de moradia de imigrantes na cidade.

"É preciso compreender essa diversidade e o fato de o centro guardar o patrimônio público de São Paulo. Sob esse olhar, estamos falando da melhor região da cidade."


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