Folha de S. Paulo


Pesquisa e incentivos devem turbinar produção orgânica brasileira

Marcelo Justo/Folhapress
SÃO PAULO, SP, BRASIL, 15-09-2017, 14h00: Emerson Giacomelli, Coordenador do Grupo Gestor do Arroz Agroecológico, pertencente ao MST; Sylvia Wachsner, coordenadora do Centro de Inteligência em Orgânicos da Sociedade Nacional de Agricultura; Taissara Martins, gerente da área de Qualidade de Leite Fresco e Desenvolvimento de Fornecedores da Nestlé, no Seminário Folha
Emerson Giacomelli, coordenador do grupo gestor do Arroz Agroecológico, pertencente ao MST

Pesquisas para o desenvolvimento de boas práticas de manejo, difusão de informações para produtores e políticas públicas de incentivo podem incrementar a escala da produção orgânica e baratear o custo para o consumidor.

Essa foi a conclusão dos participantes de um debate sobre o crescimento da agricultura orgânica no Brasil durante o segundo dia do fórum "Agronegócio Sustentável", promovido pela Folha nesta sexta (15), na Associação Paulista de Supermercados, em São Paulo.

Pesquisa e incentivos podem turbinar produção orgânica brasileira

O evento é patrocinado por Apex Brasil, Banco do Brasil, governos dos Estados de Goiás e Mato Grosso e Bayer, com apoio da Siemens e do governo de Mato Grosso do Sul.

"Nossa experiência demonstra que é possível desenvolver uma produção com certa escala, capaz de gerar uma boa renda para o produtor", disse Emerson Giacomelli, coordenador do Grupo Gestor do Arroz Agroecológico, pertencente ao MST.

Para atingir essa escala, diz ele, é essencial desenvolver a pesquisa, ampliar a assistência técnica e conceder incentivos governamentais ao produtor, como investimentos e linha de crédito facilitada.

Os orgânicos custam mais caro, mas isso não seria um problema. Segundo Sylvia Wachsner, coordenadora do Centro de Inteligência em Orgânicos da Sociedade Nacional de Agricultura, estimativas indicam que o consumidor estaria disposto a pagar um preço até 30% maior.

Produtos como tomate e alface, que já têm culturas orgânicas bem desenvolvidas, com grandes áreas de cultivo e práticas de manejo bem conhecidas, já estão com preços de mercado que competem com o valor dos convencionais, afirma Wachsner.

Mas o desejo de aumentar a escala da produção orgânica deve ser acompanhado pela preocupação com o custo social e ambiental que isso pode causar, declara Giacomelli, do MST. "Não temos o direito de destruir os recursos naturais de que as futuras gerações necessitam."

LEITE ORGÂNICO

Outro desafio é a falta de informação ao alcance do produtor, avalia Taissara Martins, gerente da área de Qualidade de Leite Fresco e Desenvolvimento de Fornecedores da Nestlé.

"Muitas vezes o produtor tem interesse, mas não sabe como fazer, já que são escassas no Brasil as informações sobre como produzir os orgânicos", disse.

A Nestlé tem um plano de incentivo para que alguns de seus fornecedores passem a produzir leite orgânico. Atualmente, participam do programa 27 produtores — a companhia conta com cerca de 4.000.

A conversão para o modelo alternativo pode levar até um ano. Os parceiros da Nestlé recebem um valor mais alto pelo leite desde o início do processo de transição e têm as despesas com a certificação do produto cobertas pela empresa.

Mas o leite proveniente de vacas que se alimentam de ração orgânica e são tratadas com medicamentos naturais é responsável por menos de 1% da produção nacional, segundo a representante da multinacional.

Hoje, esse leite é misturado ao convencional, mas o plano é vendê-lo separadamente no futuro. Para que a produção possa crescer, porém, é fundamental desenvolver a produção de milho e soja orgânicos.

"Precisamos de tecnologia na cadeia orgânica como um todo, para que ela deixe de ser uma coisa de fundo de quintal e passe a ter grande escala", declarou Taissara Martins.


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