Folha de S. Paulo


Estratégias de redução de danos devem considerar indivíduo e sociedade

Reinaldo Canato / Folhapress
SAO PAULO SP BRASIL - 23.08.2017 - FSP TREINAMENTO Forum Mudanca de Habitos e Reducao de Danos a Saude,realizado no Teatro Unibes Cultural,rua Oscar Freire 2500,no Sumare. PALESTRANTES ESQ P DIR Alice Chasin, professora de toxicologia na Faculdade Oswaldo Cruz Nveed Chaudhary, coordenador de comunicacao cientifica da Philip Morris International Sabine Riguetti Folha de Sao Paulo Paulo Saldiva, diretor do Instituto de Estudos Avancados da USP A Folha de Sao Paulo promove o forum Mudanca de Habitos e Reducao de Danos a Saude. O evento discute praticas e politicas para reduzir os riscos a saude de pessoas que nao conseguem ou nao desejam parar de fumar ou de beber. Sobre o tabaco, um dos principais temas a serem debatidos sera a troca do cigarro por dispositivos eletronicos para fumar e se eles podem ser considerados reducao de danos. No caso das bebidas alcoolicas, sera discutida a promocao do consumo consciente e medidas para evitar o consumo por criancas e adolescentes.
Alice Chasin, professora de toxicologia, Nveed Chaudhary, da Philip Morris, Sabine Righetti (moderadora) e o médico Paulo Saldiva, da USP, debateram sobre redução de danos no uso de tabaco

Estratégias de redução de danos não podem ser encaradas como instrumentos genéricos e burocráticos aplicáveis em quaisquer casos: para funcionar, precisam ser pensadas não só levando em conta o indivíduo, mas o contexto em que serão aplicadas.

A afirmação vale tanto para drogas ilícitas como as lícitas (tabaco e álcool), concordaram especialistas que integraram as mesas do seminário "Mudança de Hábitos e Redução de Danos à Saúde", realizado pela Folha na quarta-feira (23), no auditório da Unibes, com o patrocínio da Philip Morris.

Rubens Adorno, da Faculdade de Saúde Pública da USP, citou uma medida simples, mas de ótimo resultado: "Em Diadema, as equipes convenciam os donos de bares a só vender o segundo copo de cachaça após o sujeito beber um copo americano de água. É uma estratégia de redução de danos, voltada para bebedores crônicos."

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Saber a quantidade de álcool consumida por uma população não basta, portanto, para planejar uma política pública. É necessário entender de que forma e em que ambiente se consome a bebida. "Na França, toma-se muito vinho, mas só se considera um problema quando a pessoa começa a beber sozinha", exemplifica Adorno.

A decisão pela abstinência deve ser tomada pelo paciente, ouvindo o médico. "Não dá para impor, precisa ser acordado", diz o psiquiatra Arthur Guerra, coordenador do projeto Redenção.

Em relação ao tabaco, os especialistas são unânimes em dizer que a abstinência é a solução. "Fumar é perigoso e hoje está claro para a população que, se você fuma, deve parar; se você não fuma, não deve começar", diz o britânico Nveed Chaudhary, representante da Philip Morris.

Quem não consegue ou se recusa a abandonar o vício precisa se conformar de que não existe uma quantidade segura de cigarros por dia. "Algumas pessoas poderão fumar sem desenvolver doenças e outras, mais frágeis, não", alerta Paulo Saldiva, professor da Faculdade de Medicina da USP.

O cigarro eletrônico ou os dispositivos que aquecem o tabaco podem ser alternativas menos danosas à saúde. "Não há fumaça, então você reduz a exposição a uma série de substâncias tóxicas. Ao eliminar esses compostos, há redução de risco", explica a toxicologista Alice Chasin, da Faculdade Oswaldo Cruz.

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O risco dos dispositivos é o de atrair não fumantes para o vício da nicotina. "A sociedade levou décadas para se convencer de que cigarro faz mal, não podemos perder isso, mudanças culturais são muito lentas", disse Saldiva.

O ideal é que o poder público ofereça possibilidades que possam atender diferentes necessidades -inclusive a de pessoas que não querem tratamento, declarou Quirino Cordeiro, coordenador nacional de Saúde Mental, Álcool e Outras Drogas do Ministério da Saúde.

Segundo Cordeiro, são eficazes medidas como aumento de imposto sobre bebida e cigarro, restrição à publicidade e fiscalização para evitar que os grupos mais suscetíveis, como os jovens, tenham acesso a esses produtos.

A educadora Isabela Tremarin lembrou que só em 2015 tornou-se crime vender álcool para menores de idade. "O Estatuto da Criança e do Adolescente existe desde 1990, mas demorou todo esse tempo para que fosse possível punir quem disponibiliza bebida para adolescentes."

Reinaldo Canato / Folhapress
SAO PAULO SP BRASIL - 23.08.2017 - FSP TREINAMENTO Forum Mudanca de Habitos e Reducao de Danos a Saude,realizado no Teatro Unibes Cultural,rua Oscar Freire 2500,no Sumare. PALESTRANTES ESQ P DIR Quirino Cordeiro Junior, coordenador geral de Saude Mental, Alcool e Outras Drogas do Ministerio da Saude Rubens Adorno, professor da Faculdade de Saude Publica da USP Isabel Tremarin, coordenadora de orientacao educacional do Colegio Anchieta Claudia Colucci Folha de Sao Paulo A Folha de Sao Paulo promove o forum Mudanca de Habitos e Reducao de Danos a Saude. O evento discute praticas e politicas para reduzir os riscos a saude de pessoas que nao conseguem ou nao desejam parar de fumar ou de beber. Sobre o tabaco, um dos principais temas a serem debatidos sera a troca do cigarro por dispositivos eletronicos para fumar e se eles podem ser considerados reducao de danos. No caso das bebidas alcoolicas, sera discutida a promocao do consumo consciente e medidas para evitar o consumo por criancas e adolescentes.
Quirino Cordeiro, do Ministerio da Saúde, Rubens Adorno, professor da USP, Isabel Tremarin, orientadora educacional do Colegio Anchieta, e Claudia Colucci (moderadora)

ORGANIZAÇÕES ANTITABACO

A Folha convidou representantes de organizações antitabaco para participar do fórum, mas eles preferiram não comparecer.

A Aliança de Controle do Tabagismo (ACT) afirmou que o seminário não poderia ser isento uma vez que o evento era patrocinado pela Philip Morris.

"O debate sobre estes temas, de grande interesse da população, é salutar desde que realizado com autonomia, independência, credibilidade e que não tenha como objetivo desviar a atenção de pautas prioritárias", afirma a nota da ACT.

A Associação Mundial Antitabagismo afirma que recusou o convite por seguir a Convenção Quadro para Controle do Tabaco, que dispõe a favor da restrição de patrocínios pela indústria do tabaco.

"Vale a pena lembrar que as palavras da (agora ex) diretora-geral da OMS Margaret Chan não devem ser relativizadas: 'A indústria do tabaco é um inimigo cruel e astucioso, contra o qual devemos nos unir. O inimigo mudou sua face e sua tática. O lobo não veste mais pele de cordeiro e mostra seus dentes'", afirma a resposta da associação.

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A VOZ DO PÚBLICO

Não temos no país programa de redução de danos para drogas lícitas. Há pessoas que não conseguem ou não querem parar, e há dificuldade no acesso aos produtos com tecnologia para reduzir os danos."
Orlando Soeiro, farmacêutico

"Muitas vezes as pessoas nem estão interessadas na droga em si, mas usam porque buscam aceitação social. Às vezes precisam de incentivo e ajuda para reduzir os danos ao corpo."
Nathania Cordeiro, estudante de farmácia

"É um tema de saúde pública. Se nos conscientizarmos sobre o uso dessas drogas, os riscos se reduzem naturalmente."
Marcella Santos, estudante de biomedicina

"É necessário discutir o assunto, principalmente porque estamos tratando de drogas que têm uso disseminado e até estimulado. É importante existir uma forma de amenizar os riscos que o vício gera."
Sávio Fujita, professor universitário

"Quem não é da academia ou da área científica precisa desses eventos. Eu queria informações objetivas: reduzir qual dano? De que forma? Em quanto tempo?"
Zoia almeida, professora

"Essa questão me preocupa. Acho que tenho bebido bastante e quero ver como posso reduzir os danos, já que não pretendo parar."
Maria Helena Alves Ferreira, funcionária pública


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