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Estratégia de redução de danos no consumo de álcool deve ser individual

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Para ser eficiente, uma estratégia de redução de danos no consumo de bebidas alcoólicas deve ser pensada de forma individual e adaptada a um determinado contexto. A afirmação é do professor da Faculdade de Saúde Pública da USP e presidente da Abramd (Associação Brasileira Multidisciplinar de Estudos sobre Drogas), Rubens Adorno.

Segundo ele, para lançar programas de prevenção, é preciso "conhecer muito bem o contexto de cada um e ser criativo em relação a ele, além de levar em conta a situação geral dessa sociedade".

"Na Alemanha, um dos países com o maior nível de alcoolização da Europa, os garçons são alertados para não oferecer bebida a quem já passou do limite", contou.

As declarações foram feitas durante a segunda mesa de debates, sobre redução de danos no consumo de álcool, realizada nesta quarta-feira (23) no fórum "Mudança de Hábitos e Redução de Danos à Saúde", no teatro Unibes Cultural, em São Paulo. O evento foi promovido pela Folha com patrocínio da Philip Morris.

Reinaldo Canato / Folhapress
SAO PAULO SP BRASIL - 23.08.2017 - FSP TREINAMENTO Forum Mudanca de Habitos e Reducao de Danos a Saude,realizado no Teatro Unibes Cultural,rua Oscar Freire 2500,no Sumare. PALESTRANTES ESQ P DIR Quirino Cordeiro Junior, coordenador geral de Saude Mental, Alcool e Outras Drogas do Ministerio da Saude Rubens Adorno, professor da Faculdade de Saude Publica da USP Isabel Tremarin, coordenadora de orientacao educacional do Colegio Anchieta Claudia Colucci Folha de Sao Paulo A Folha de Sao Paulo promove o forum Mudanca de Habitos e Reducao de Danos a Saude. O evento discute praticas e politicas para reduzir os riscos a saude de pessoas que nao conseguem ou nao desejam parar de fumar ou de beber. Sobre o tabaco, um dos principais temas a serem debatidos sera a troca do cigarro por dispositivos eletronicos para fumar e se eles podem ser considerados reducao de danos. No caso das bebidas alcoolicas, sera discutida a promocao do consumo consciente e medidas para evitar o consumo por criancas e adolescentes.
Quirino Cordeiro, do Ministerio da Saúde, Rubens Adorno, professor da USP, Isabel Tremarin, orientadora educacional do Colegio Anchieta, e Claudia Colucci (moderadora)

Também participaram do debate o coordenador nacional de Saúde Mental, Álcool e Outras Drogas do Ministério da Saúde, Quirino Cordeiro, e a coordenadora de orientação educacional do Colégio Anchieta, de Porto Alegre, Isabel Tremarin.

Segundo Cordeiro, a estratégia de redução de danos tem sido aplicada pelo governo brasileiro principalmente na forma de unidades de acolhimento voltadas para pessoas dependentes do álcool e outras drogas. Para ele, há evidências de sucesso na aplicação do modelo.

"No início da epidemia de Aids, se percebeu que, quando você oferecia a possibilidade de os indivíduos fazerem o uso de drogas injetáveis com maior segurança, diminuía a ocorrência de Aids e de hepatite", disse.

Ele lembra, no entanto, que a redução de danos é uma estratégia de pouca exigência, que não obriga o consumidor a parar de beber. "É preciso haver a promoção da abstinência em alguns casos. Às vezes a individualização do tratamento requer outras estratégias que não a redução de danos."

Como outros exemplos de estratégias de redução de danos, Cordeiro cita programas que evitem que as pessoas dirijam depois de beber e também leis que restrinjam o acesso ao álcool.

Como exemplo de restrição de acesso à bebida ele cita o caso do município de Diadema, na Grande São Paulo, onde, em 2002, foi criada uma lei que estabelece o fechamento de estabelecimentos que vendem bebidas alcoólicas após as 23h. Para Cordeiro, a ação teria influenciado a queda das taxas de homicídio e suicídio na cidade nas duas décadas seguintes.

Para Adorno, no entanto, não é comprovada a relação entre a ocorrência dos dois fatores na cidade. Os números de homicídios e suicídios seriam "problemas muito mais complexos e nunca monocausais", afirmou.

ÁLCOOL ENTRE JOVENS

No debate, a coordenadora educacional Isabel Tremarin falou sobre a prevenção do consumo de álcool entre jovens e adolescentes.

Com o objetivo de ilustrar os perigos da negligência dos pais em relação ao consumo de álcool por jovens, Tremarin coordenou a produção de um filme de ficção em parceria com pais de alunos do Colégio Anchieta, que foi lançado em junho deste ano.

Anchieta

A intenção é que o filme, que tem cerca de 30 minutos e está disponível na internet, seja usado em escolas como forma de alerta.

Para Tremarin, um dos maiores riscos do consumo de álcool entre os jovens é o fato de o cérebro deles ainda estar em desenvolvimento.

"Pessoas com menos de 18 anos têm a área do cérebro que controla a sensação de prazer bem mais desenvolvida do que a área ligada ao controle de impulsos. Isso significa que o controle de prazer tem maior aderência, enquanto aquele que diz o que é certo e errado amadurece um pouco depois", explica.

Segundo ela, estudos mostram que pessoas que começaram a consumir álcool com menos de 18 anos têm chances maiores de desenvolver dependência. Para combater a prática, ela defendeu a formação de "uma aliança forte entre educadores, família e órgãos público, com o objetivo de fazer a prevenção do consumo e promover o cuidado com essas crianças".


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