Folha de S. Paulo


Curso de educação precisa abordar melhor a didática, dizem especialistas

Segunda mesa do Fórum Inovação Educativa 2

Os cursos superiores de educação no Brasil precisam ser repensados para melhorar a didática do professor em sala de aula —um dos problemas é que as aulas de pedagogia que formam docentes da educação básica possuem pouca abordagem prática.

A conclusão é de especialistas em formação de professores que participaram da segunda mesa do Fórum Inovação Educativa 2, promovido pela Folha em parceria com a Fundação Telefônica Vivo nesta quarta-feira (24).

Para Mário Ghio, vice-presidente do grupo educacional Kroton, uma das causas para a deficiências é a falta de autonomia de instituições de ensino na elaboração do currículo dos cursos de pedagogia.

Segundo ele, as universidade particulares, que formam a maioria dos professores, ainda não possuem papel importante na elaboração de diretrizes na formação inicial de professores.

"Embora as instituições públicas tenham cerca de 10% dos alunos de pedagogia e licenciatura, a maioria deles atua na área de pesquisa. E quem está dentro da sala de aula estudou em faculdade privada. Mas a faculdade não tem papel na discussão do curso", disse.

Ghio acredita que o curso deveria ser alterado para que a didática fosse um dos pilares da formação. "Como é hoje, se o aluno nunca encontrou uma criança na vida, mas decorou a teoria de Piaget, não faz muita diferença", afirmou.

O modelo usado para moldar os cursos de educação também foi criticado por Naomar Almeida Filho, reitor da Universidade Federal do Sul da Bahia. Ele diz que os cursos deveriam abordar dificuldades regionais específicas.

"Ser professor no interior da Bahia é uma atividade muito respeitada. Tem prestígio social, por isso a escolha da licenciatura na UFSB é altíssima. É muito diferente da periferia de uma cidade como São Paulo", disse.

A integração entre as etapas de ensino também é essencial para melhorar a qualidade educacional no Brasil, segundo Almeida. Para ele, é preciso construir um modelo em que a universidade tenha um papel de responsabilidade na educação básica.

Para Paula Carolei, coordenadora da graduação em design educacional da Unifesp, o mundo acadêmico ainda é muito resistente a mudanças na formação de docentes brasileiros. "Quando eu propus a criação do curso de design educacional, muita gente foi contra. Aprendi que para haver mudança, tem que criar um diálogo com os professores. Se eu simplesmente chegar de cima para baixo, os professores atuais não vão aceitar novas propostas".


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