Folha de S. Paulo


Empresas dizem que tema é delicado e enfrenta resistência dos funcionários

Keiny Andrade/Folhapress
SAO PAULO - SP - 18.05.2017 - Forum Folha - EXPLORACAO SEXUAL INFANTIL - MESA 4: COMO EMPRESAS PODEM AJUDAR - PARTICIPANTES: Dináurea Cheffins, vice-presidente da Atlantica Hotels International; Raphael Lafetá, diretor do Instituto MRV; Luis Henrique Calil, diretor comercial da Cinesystem Cinemas.
Sophie Wajngarten,Beatriz Azeredo, Dináurea Cheffins, Luis Henrique Calil e Raphael Lafetá

Para ajudar a combater o abuso sexual de menores, empresas devem treinar funcionários e romper o silêncio que costuma cobrir o tema, afirmaram empresários no Fórum Exploração Sexual Infantil, nesta quinta (18), durante a mesa "Como empresas podem ajudar".

O evento foi realizado pela Folha, em parceria com o Instituto Liberta e a incorporadora Cyrela, no Unibes Cultural, em São Paulo.

A vice-presidente de recursos humanos da rede Atlantica Hotels International, Dináurea Cheffins, promoveu um programa de treinamento para sensibilizar os funcionários do hotel.

Segundo a executiva, o treinamento prepara os colaboradores, do mensageiro à camareira, para notificar suspeitas de abuso sexual dentro das unidades.

Parte do curso consiste em dividir os funcionários em grupos e perguntar se alguém conhece vítimas de abuso. "Muitas vezes, os funcionários se aproximam depois para contar suas próprias histórias."

Iniciativa semelhante foi desenvolvida pela Cinesystem Cinemas, relata o diretor comercial Luis Henrique Calil. "Divulgamos uma campanha em todos os cinemas, para todos os funcionários. Depois, ouvimos, debatemos, e todos se envolveram com o problema."

Os empresários falaram da dificuldade de discutir a exploração sexual infantil com colaboradores. "Quando transmitimos a campanha pela primeira vez aos funcionários na sala de cinema, foi um silêncio completo", disse Calil.

O impacto mais perceptível da campanha, segundo ele, foi que os funcionários, em sua maioria jovens, passaram a discutir o assunto. "O desafio [da campanha] é ter uma sala barulhenta no cinema", afirmou.

Raphael Lafetá, diretor do Instituto MRV, braço social da MRV Construtora, também se deparou com o silêncio quando quis incluir o tema da exploração em ações nas comunidades onde a empresa atua.

"Ouvi em reuniões que o tema é ruim e ninguém gosta de falar sobre abuso", disse. "Ninguém quer chegar em casa, ligar a TV e ver histórias tristes. As pessoas pensam que os casos são distantes", concordou a cofundadora do Instituto Liberta, Sophie Wjngarten.

MÍDIA

Quebrar o silêncio foi o objetivo de uma campanha criada por Wajngarten, que é publicitária e sócia da Cucumber Propaganda. "Como o assunto é delicado, ninguém quer olhar", disse.

Para a diretora de responsabilidade social da TV Globo, Beatriz Azeredo, o silêncio da sociedade se acentua porque há uma cultura de que a exploração sexual é natural ou só atinge pessoas pobres.

"Precisamos mostrar que a exploração acontece em todos os segmentos da sociedade", diz. Os meios de comunicação têm, segundo a executiva, o papel de sensibilizar as pessoas. "Na empresa, essa é uma agenda permanente, no jornalismo e nas novelas."


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