Folha de S. Paulo


Falar sobre HPV é também um ato de amor, diz médica durante debate

Falta de comunicação e conhecimento sobre o HPV (vírus do papiloma humano) dificultam a prevenção da doença e geram preconceito. Oferecer um ambiente seguro para que os adolescentes e os pais possam se informar e esclarecer dúvidas é um importante atalho para diminuir o número de casos no país.

Essa foi a conclusão dos participantes do debate "Adolescência: Como falar de HPV" promovido pela Folha com apoio do laboratório MSD, nesta terça-feira (29), no Teatro Folha, em São Paulo.

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A vacina contra a infecção está atualmente disponível de forma gratuita na rede pública de saúde para meninas de 9 a 13 anos e será oferecida aos meninos no ano que vem. "Ela é absolutamente segura, já foram distribuídas mais de 200 milhões de doses no mundo todo", afirmou Rosana Richtmann, infectologista do Hospital e Maternidade Santa Joana.

"Mas, apesar do sucesso da vacina, não estamos conseguindo falar com as pessoas. É preciso conversar e entender o comportamento, disso também depende a prevenção", completou.

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Para a médica Albertina Duarte Takiuti, coordenadora do Programa de Saúde do Adolescente da Secretaria de Estado de Saúde de São Paulo, as questões de sexualidade sempre foram desafio nessa faixa etária. Segundo ela, o preparo de quem trabalha com adolescentes para tratar desses temas ainda é baixo. "Deveriam existir espaços públicos de atendimento ao adolescente. As unidades básicas de saúde precisariam estar preparadas para recebê-lo", disse. "O adolescente precisa conversar sobre suas novas emoções e descobertas. Falar sobre HPV é também um ato de amor."

A atriz carioca Julia Dalavia, 19, que participou do debate, lembrou que sua geração não viveu a epidemia da Aids e, por isso, se preocupa menos com as doenças sexualmente transmissíveis (DST). "Somos muito esclarecidos quanto ao sexo, mas não em relação às DST. Todo mundo pensa: não vai acontecer comigo", afirmou.

Saulo Ciasca, psiquiatra do Amtigos (Ambulatório Transdisciplinar de Identidade de Gênero e Orientação Sexual), ressalta a importância da escola. "Se os pais e a escola não falarem, o adolescente vai tentar resolver a questão na internet, porque hoje em dia ele não fica com dúvida", disse.

De acordo com Ciasca, as conversas sobre sexualidade devem ser muito mais amplas do que apenas expor os perigos das doenças: é também tocar em temas como o machismo, o assédio e a diversidade. "E sem esquecer de dizer que sexo é prazer, é muito bom", disse o psiquiatra.

Para o ator paulistano Ruy Brissac, 26, que esteve entre os debatedores, "é importante deixar os filhos à vontade". "É muito melhor falar com alguém que você conheça do que esconder e deixar o problema crescer", aconselhou. "O adolescente precisa conversar sobre suas emoções e descobertas. Mas não é o discurso do medo, é o papo a partir da vivência dele."

O debate, mediado pela jornalista Laura Mattos, contou na plateia com um grupo de alunos do Colégio São Domingos e com adolescentes atendidos pelo Instituto Ana Rosa. "Foi superinteressante, estou muito satisfeito, porque é um tema tabu, sobre o qual não temos muitas informações. Saio daqui com uma bagagem mais rica para falar sobre isso com meus alunos", disse Edielson Albergoni, 30, educador social.


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