Folha de S. Paulo


Sentimento de onipotência dos jovens é entrave para combate ao HPV

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A vacinação contra o HPV coloca em debate um assunto que vem mobilizando os especialistas: como desenvolver a noção de saúde preventiva entre adolescentes?

Os sentimentos de invencibilidade e imortalidade afastam os jovens das ações com vistas para o futuro -até para o mais próximo. Ao acreditar que estão acima de qualquer fatalidade, eles adotam comportamento de risco: bebem em excesso, dirigem sem cuidado, fazem sexo sem proteção... O que dizer então da prevenção a doenças que talvez venha atingir-lhes na idade adulta? Neste caso, a missão torna-se ainda mais árdua.

Em relação ao HPV e os meninos, os desafios são ainda maiores. Afinal, está-se falando de um vírus tradicionalmente associado ao sexo feminino.

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"É difícil trabalhar a noção de saúde com o adolescente", diz Diego Callisto, assessor técnico do Ministério da Saúde. "Ele precisa ter o entendimento da importância do assunto para seu bem estar e qualidade de vida."

Para Callisto, essa questão é ainda mais complicada em um país como o Brasil, em que as ações de saúde só ganham relevância frente a uma situação de adoecimento. Em geral, o brasileiro não está acostumado à filosofia da medicina preventiva.

Além disso, há de se levar em conta que, no Brasil, a vacinação de adolescentes é uma prática relativamente recente, pontua a epidemiologista Carla Rodrigues, coordenadora do Programa Nacional de Imunizações (PNI), do Ministério da Saúde. Quando se fala em vacina, a tendência é pensar imediatamente nos bebês e crianças –ou, quando muito, na imunização de idosos contra a gripe. "A vacinação dos jovens é desconhecida, inclusive por muitos pais", diz ela.

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Para Diego Callisto, a melhor estratégia para atingir os adolescentes é levar a discussão sobre a importância da vacinação para dentro da escola. Em primeiro lugar, porque, lá, os adolescentes têm a possibilidade de discutir o assunto e tirar dúvidas. "O ambiente escolar qualifica a informação", diz ele.

Ainda, segundo Callisto, a escola é um lugar que propicia o diálogo do jovem com seus pares. Isso porque a adolescência é a fase da vida em que fazer parte de um grupo de pessoas com os mesmos interesses é de extrema importância. Na puberdade, o adolescente não se contenta mais só com a proteção da família, e vai buscar a aprovação dos amigos, num movimento importante para o desenvolvimento da identidade do jovem.

Um exemplo de como surte efeito colocar o debate sobre a importância da vacinação de jovens na escola é o que aconteceu na primeira fase de imunização contra o HPV, em 2014. Ao levar a vacina para dentro das escolas públicas, o Ministério da Saúde conseguiu atingir a quase totalidade do público alvo, meninas de 11 a 13 anos, o que surpreendeu os especialistas.

A segunda dose, ministrada nos postos de saúde, teve, no entanto, uma adesão ao redor de cerca de 60% delas. Uma dose apenas não oferece nenhuma proteção.

Atualmente, 48% das meninas entre 9 e 14 anos estão vacinadas adequadamente no Brasil. Atingindo a meta de 80%, é possível controlar disseminação do vírus.


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