Folha de S. Paulo


Pequenas empresas ganham ao inovar em produtos sustentáveis

A paisagem de araucárias inspirou Pedro Reis, dono da cervejaria Insana, do Paraná, a criar uma cerveja que leva pinhão na receita.

Com a inovação, o empresário fortaleceu uma iniciativa de valorização do pinhão orgânico produzido em áreas de preservação da mata de araucárias.

Batizado de Araucária+, o projeto da Fundação Certi, ligada à Universidade Federal de Santa Catarina, incentiva cadeias de negócios sustentáveis baseados em dois produtos típicos dessa floresta: pinhão e erva-mate.

A cerveja de pinhão, sazonal, foi um sucesso. O primeiro lote, lançado em 2015, teve 15 mil unidades vendidas. O bom resultado levou a Insana a triplicar a produção neste ano.

Uma tonelada de pinhão, comprada diretamente de quatro produtores, foi utilizada na fabricação da cerveja -o que permitiu a preservação de 70 hectares de mata nativa em Santa Catarina.

"A cerveja de pinhão surgiu como um projeto ambiental, mas acabou se tornando um produto rentável", diz Reis. A cervejaria fixou metas para aumentar a compra do pinhão orgânico para dez toneladas até 2018.

Os produtores inscritos no programa Araucária+ se comprometem a utilizar técnicas extrativistas responsáveis e recebem até 30% a mais em relação ao pinhão comercializado na região.

"As cadeias produtivas do pinhão e da erva-mate têm baixo valor agregado. Queremos trazer a lógica dos ecossistemas de inovação para esses negócios", diz Marcos Da-Ré, diretor do Centro de Economia Verde da Fundação Certi.

O programa, que reúne 20 empresas e start-ups, 83 produtores e 33 instituições, ajuda a preservar, por meio de novos negócios, 500 hectares de matas de araucária. A meta é chegar a 5.000 hectares até 2020.

EXPORTAÇÃO

Em São Paulo, o GVCes (Centro de Estudos em Sustentabilidade da Fundação Getúlio Vargas) prepara pequenas empresas com produtos sustentáveis para o mercado externo.

O programa ICV Global (Inovação e Sustentabilidade nas Cadeias de Valor Globais) foi criado em parceria com a Apex-Brasil (Agência de Promoção de Exportações e Investimentos) para diversificar as exportações brasileiras e incluir os pequenos.

"A pauta brasileira de exportações está centrada 70% em commodities e em 200 grandes empresas. É preciso aumentar a participação das pequenas", diz Paulo Durval Branco, coordenador do ICV Global. O programa não aporta recursos nas empresas, mas oferece consultoria e capacitação.

Uma das participantes é a Atina, de Pouso Alegre (MG), que produz óleos e ingredientes para a indústria de cosméticos. É a única produtora, no Brasil, do bisabolol natural (fármaco anti-inflamatório e cicatrizante), a partir da extração certificada da candeia, árvore nativa da Mata Atlântica.

A participação no ICV Global ajudou a empresa, antes dependente das vendas internas, a reverter esse cenário. Participou de duas feiras importantes do setor, em Nova York e Paris, e hoje exporta 67% da produção
Agora, o desafio da Atina é atrair novos clientes internacionais para o ativo de origem sustentável. "Grande parte do bisabolol usado na indústria ou é de origem sintética ou é extraído sem controle. Queremos mudar esse cenário", diz Eduardo Roxo, fundador da empresa.


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