Folha de S. Paulo


Transição para energia limpa custa só um pouco mais caro, segundo ONG

Chegar a 2050 com uma matriz de energia livre dos combustíveis fósseis deverá custar R$ 1,7 trilhão em investimentos ao longo dos próximos anos. Parece muito, mas é 6% a mais em relação ao que o Brasil precisará investir em energia, considerando as políticas atuais para o setor de energia.

O caminho de abrir mão do petróleo e do carvão progressivamente e alcançar uma matriz 100% renovável até meados do século também vai possibilitar a geração de 618 mil empregos ligados à área de energia limpa até 2030.

O cenário faz parte da quarta edição do relatório [R]Evolução Energética, criado pelo Greenpeace e lançado nesta terça (23) em São Paulo, em um debate realizado em parceria com a Folha no auditório do jornal.

Elaborado com o apoio de especialistas de universidades e institutos de pesquisa como Unicamp, UFRJ e International Energy Initiative (IEI), o documento traça um panorama para que o país faça a substituição das energias fósseis pelas renováveis e os passos necessários nessa transição.

"Estamos falando de uma revolução concreta. O relatório traz uma nova proposta, que é a de zerar as emissões na indústria, na produção de eletricidade e nos transportes", explica Ricardo Baitelo, coordenador da área de Clima e Energia do Greenpeace Brasil.

De acordo com essa visão, na indústria e nos transportes o abandono da energia fóssil também será progressivo, com adoção de biocombustíveis e eletricidade gerada a partir de fontes limpas. A energia gerada pelo sol e pelos ventos alcança 46% da matriz energética até 2050, ao mesmo tempo em que as grandes hidrelétricas, hoje predominantes, perdem espaço.

Para isso, seria preciso redirecionar políticas públicas e investimentos em eficiência energética e geração descentralizada, com ênfase nas fontes solar, eólica e biomassa. Em paralelo, a orientação é de abolir gradativamente o petróleo e seus derivados - inclusive o pré-sal -, as termelétricas a carvão e também a geração nuclear.

O Greenpeace sugere também que não se construa mais hidrelétricas na região amazônica, hoje a principal rota de expansão da geração hídrica no país.

O relatório apresenta e compara dois cenários que mostram as possíveis configurações da matriz energética em 2050. O cenário Base reflete a continuidade das políticas do governo para o setor. Já o cenário [R]Evolução Energética traz a projeção do Greenpeace para o mesmo período.

Marcus Leoni/Folhapress
Ricardo Baitelo, coordenador de Clima e Energia do Greenpeace Brasil, durante o evento
Ricardo Baitelo, coordenador de Clima e Energia do Greenpeace Brasil, durante o evento

"Com mais vento, menos hidrelétrica e mais de outras fontes, como solar e biomassa, teremos um cenário em que as renováveis se complementam", afirma Baitelo.

Segundo a projeção da ONG, a fonte hídrica passa a representar 45% da matriz em 2050, enquanto a energia eólica cresce dos atuais 7% para 25% e a fonte solar salta de menos de 1% para 21% da matriz. Outras alternativas surgem no cenário, como a oceânica e o hidrogênio, que vão responder por 2% até 2050.

"Fazer a transição não será barato, mas os custos empatam com os que estão previstos no cenário Base", diz Baitelo. Outro ponto que conta a favor das renováveis são os custos em queda, decorrentes da renovação tecnológica, e as novas possibilidades de armazenagem de energia, como baterias mais potentes.

"De 2030 para frente a energia limpa fica mais barata, e teremos um consumidor gerando sua própria energia. Mas para isso precisamos de políticas públicas e de planejamento", conclui Baitelo.


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