Folha de S. Paulo


Aplicativos ajudam a superar entraves da coleta seletiva

Quando chegou a Fortaleza, há dois anos, o paulista Heverton Oliveira se impressionou com a quantidade de embalagens recicláveis que iam para o lixo. "Ninguém sabia direito aonde levar pra reciclar e praticamente não existiam pontos de entrega", lembra o consultor comercial.

A dificuldade como consumidor fez com que Oliveira assumisse um novo papel: empreendedor social. Junto com sua mulher, Rafaella Oka, ele se prepara para lançar até o fim de junho um aplicativo para conectar consumidores e cooperativas de reciclagem.

A cada semana, a plataforma vai desafiar os usuários cadastrados a separar em casa algum tipo de material.

Editoria de Arte/Folhapress

Ao fim do período, um catador das cooperativas parceiras fará a coleta. Como incentivo, o consumidor que cumprir a missão ganhará descontos em compras –farmácias, supermercados e lojas de departamento de Fortaleza aderiram ao programa.

Iniciativas como essa, que recorrem à tecnologia, podem ajudar a reverter as estatísticas, afirma Victor Bicca Neto, presidente do Cempre (Compromisso Empresarial para a Reciclagem). "Embora 70% dos brasileiros saibam o que é certo fazer, só 30% separam de fato o lixo", afirma ele, que aponta a falta de infraestrutura e de ânimo como principal obstáculo.

Para quem não tem coleta seletiva em casa (só 1.055 dos 5.570 municípios têm programas específicos), um mapa interativo desenvolvido pelo Cempre indica locais de entrega de materiais recicláveis, eletroeletrônicos, óleo vegetal, pneus e até remédios.

A primeira ferramenta on-line voltada para a reciclagem está no ar há 8 anos. Naquela época, a iniciativa partiu de um funcionário recém-formado: cercado por planilhas e desafiado por perguntas que exigiam conhecimento de geografia, teve a ideia de criar uma plataforma digital.

O site substituiu o trabalho de buscar manualmente o ponto de reciclagem de embalagens cartonadas mais perto do consumidor que pedia o dado pelo telefone.

"Hoje você digita o endereço e a plataforma mostra onde os produtos podem ser deixados para a reciclagem. O nosso maior desafio é comunicar para um público cada vez maior que existe essa ferramenta", explica Valéria Michel, diretora de Meio ambiente da Tetra Pak, criadora do site Rota da Reciclagem, consultado mensalmente por cerca de 20 mil pessoas.

No Brasil desde 2009, a Terracycle foi a solução para mais de 60 mil consumidores que buscavam nova vida para produtos de difícil reciclagem, como tubos de creme dental, embalagens de caneta e esponja de lavar louça.

"Qualquer pessoa pode se cadastrar e nos enviar o material quando atingir uma quantidade mínima", diz Monica Pirrongelli, que representa a Terracycle no país. A postagem é paga pelas firmas responsáveis pelo produto.

A Sociedade Benfeitora de Jaguaré participa do programa desde 2011 e há três anos se transformou num ponto de coleta do bairro. "Antes, o lixo reciclável ficava jogado em alguns pontos nas ruas, que agora são áreas de recreação para crianças", afirma Margarida Maria Ruivo, diretora geral de projetos.

Além da comunidade, os 1.700 alunos da instituição recolhem cerca de 30 toneladas de material por mês. "Com o tempo, percebemos a mudança na comunidade, criaram uma consciência", diz.


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