Folha de S. Paulo


Brasil deixa de reciclar metade das garrafas PET jogadas no lixo

o caminha da reciclagem no brasil

Há 20 anos, Roberval Prates Reis vive principalmente de recolher embalagens PET descartadas e vendê-las para empresas de reciclagem. O material, junto com o papelão, é o carro-chefe da maior parte das cooperativas no país, mantidas por mais de 800 mil catadores de materiais recicláveis.

"O preço do PET caiu um pouco desde o ano passado, mas continuamos catando. Ele é que segura a nossa renda", diz Roberval, da rede de cooperativas Cata Sampa.

O quilo do plástico prensado é vendido por até R$ 1,55 principalmente para as indústrias automobilística e têxtil, maiores consumidoras do PET reciclado no país.

O trabalho dos catadores evitou que 274 mil toneladas de PET fossem despejadas em aterros no ano passado.

Essa quantidade corresponde a cerca de 51% de todo o PET que foi descartado no Brasil, de acordo com dados da Abipet (Associação Brasileira da Indústria PET). Os 49% restantes viraram lixo -uma quantidade que precisaria ser transportada em aproximadamente 40 mil caminhões.

CONSUMO

Considerado a embalagem ideal para a indústria de bebidas no mundo, o PET faz parte do mar de plástico que está tomando conta dos oceanos. A estimativa é que esse resíduo ultrapasse a quantidade de peixes nas águas marinhas até 2050.

"O plástico é um material durável, que não se degrada facilmente no ambiente, e que é usado para produtos descartáveis. Há um contrassenso aí", aponta Ana Paula Bortoleto, da Unicamp.

Diante desse cenário, diminuir o consumo é mais urgente do que aumentar as alternativas de reúso, defende a especialista. "A reciclagem do PET não é 100% eficaz, ou seja, o nível de qualidade não é o mesmo ao fim do processo, como ocorre com vidro e metal", afirma Bortoleto.

Já Auri Marçon, presidente da Abipet, vê um grande potencial para o setor. "O Brasil é líder em aplicação para PET reciclado, que é muito versátil." Esse plástico reaparece como resina usada em carpetes e forrações de veículos (28,6%), fibra têxtil (25,7%) e em novas embalagens (25,7%), segundo o censo da associação.

Em tempos de baixo preço do petróleo, que é a base do polímero termoplástico, a cadeia de reciclagem também sente o baque, já que alguns clientes acabam optando pela fonte fóssil primária na linha de produção.

A queda no volume de PET reciclado no ano passado foi de 6%, também motivada pela crise econômica.

Nas ruas, os catadores sentem essa dificuldade, mas enxergam no trabalho algo além de uma fonte de renda.

"Algumas pessoas falam que somos agentes ambientais. Nós somos catadores, e sabemos que contribuímos para essa questão do pós-consumo evitando que PET e outros vão para o lixo", afirma Roberval.


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