Folha de S. Paulo


HP vai 'garimpar' metais preciosos em sucata eletrônica

Numa tarde de novembro de 2015, Kami Saidi, diretor de suprimentos e sustentabilidade da HP Brasil, recebeu em sua sala uma peça de ouro com dez gramas. Não veio de uma joalheria. Era uma "prova do sucesso" da recuperação de metais preciosos de placas eletrônicas e conectores da marca.

O projeto em parceria com a Sinctronics, centro de inovação em sustentabilidade em Sorocaba, tem dois anos. Se os resultados forem bons, a empresa de tecnologia espera incluir à planta industrial atual, que já recicla plásticos e outros materiais, uma unidade para recuperar minérios de placas, até 2017.

"Há apenas cinco ou seis países que têm esse processo", diz o executivo. Na nova unidade poderão ser tratados celulares, computadores, impressoras, notebooks e tablets de todas as marcas.

Criar uma unidade recicladora junto à planta de produção é um passo importante. Reciclar e reincorporar o material pós consumo à produção num mesmo local trazem vantagens. O aprimoramento do know how da desmontagem influencia decisões de projeto e design, com vistas a facilitar o retorno do produto ao início da cadeia.

"Quando as equipes trabalham a ideia da economia circular, querem aproveitar tudo que é produzido, otimizando processos", diz Saidi.

Ele vê uma oportunidade "ímpar" de implantar uma cadeia de valor da reciclagem no Brasil. "Cerca de 90% de nossos produtos são fabricados e consumidos aqui. O caminho habitual é enviar para a Ásia. Mas o Brasil tem poder de compra. Já temos logística de distribuição e reversa", anima-se.

FECHANDO O CÍRCULO

"Na economia circular, dois terços dos empregos são no setor de serviços. Na cadeia linear, você tem mais uso de matéria-prima virgem com menos emprego e mais ônus ambiental e social".

Já na cadeia circular "há uso menor de matéria-prima virgem, mais empregos e menos ônus ambiental e social", diz ele. "Quanto menor for a circunferência do círculo, menor a dispersão de valor."

Saidi considera que são necessários ajustes para a atividade no país. "Deveria ser mais barato reaproveitar, porque você evita consequências para o meio ambiente", diz. Ele defende mudança do modelo fiscal, com taxação de matérias-primas virgens e redução de custos e impostos para recicladas. Mas não é suficiente. "É necessário investir em pesquisa e desenvolvimento do redesign".

O executivo da HP considera que o brasileiro está preparado para uma mudança de paradigma na economia.

"As pessoas querem consumir sem peso na consciência", diz. "O consumidor não quer se privar da tecnologia. Se eu simplesmente diminuo o consumo e a industrialização, provoco desemprego na indústria. As pessoas querem ter conforto sustentável", diz.

PRÊMIO ECO

A HP, que detém 64% do mercado de impressoras do mundo, opera há dez anos um programa para equipamentos usados da marca. Desde 2006, coleta e recicla cartuchos de tinta por meio de 400 pontos de venda. Em 2015, ganhou o prêmio Eco, da Câmara de Comércio Brasil-EUA, na categoria práticas de sustentabilidade, pela reciclagem de eletrônicos e reaproveitamento na fabricação.

Seu programa de coleta somou 693 toneladas de eletrônicos em 2015, alta de 90% em relação a 2014. De volta à produção, o material entrou em 75% dos cartuchos, respondendo por 70% da composição.

O percentual de material reciclado na composição de impressoras é de 8%. A estimativa é que até o fim de 2017 seja de 20%, com uso de mais partes plásticas de cartuchos velhos nas partes externas das novas impressoras.

Também nas embalagens, a inteligência da reciclagem mostra resultados. O projeto Freepackaging permite o reuso dos invólucros de papelão por até sete vezes. Para substituir o isopor, foram criados protetores com polpa de papel reciclado.


Endereço da página: