Folha de S. Paulo


Avanço no tratamento do câncer esbarra no custo, diz Drauzio Varella

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As novas drogas e tratamentos para o câncer estão revolucionando a oncologia, com a promessa de curar pacientes com tumores metastáticos em um futuro não muito distante.

Os avanços, porém, esbarram na questão dos custos cada vez mais altos. Para garantir o acesso dos pacientes a esses novos tratamentos será preciso negociação entre a indústria e os sistemas de saúde, tanto públicos quanto privados, afirmou o oncologista Drauzio Varella, que abriu o segundo dia do Fórum O Futuro do Combate ao Câncer, promovido pela Folha, em São Paulo, com patrocínio dos laboratórios MSD e Bristol-Myers Squibb.

"Na medicina, quando aumenta o mercado para um determinado medicamento, o preço não cai. Pelo contrário, encarece. A oncologia não obedece às leis econômicas internacionais", afirmou Varella. No Brasil, os custos têm impactado tanto o SUS (Sistema Único de Saúde) quanto o sistema privado. "Temos um SUS subfinanciado e mal gerenciado, e planos de saúde com baixas margens de lucro. Não estamos preparados para essa complexidade", afirmou.

O alto custo do tratamento, no entanto, não é uma exclusividade brasileira. Segundo Varella, os grandes responsáveis por isso são os Estados Unidos, já que o MedCare, sistema público de saúde americano, é proibido de negociar os preços com a indústria.

Uma das saídas para a questão dos custos, afirmou o oncologista, é escolher os tratamentos com base em uma análise de quais drogas são mais adequadas para cada caso específico de câncer. "Tem que ter negociação entre a indústria e sistema de saúde para saber quando o remédio tem perto de 100% de chance de ação, e só usar nesses casos", disse Varella.

Outro caminho para reduzir os custos seria dividi-los com a indústria, de modo semelhante ao que ocorre nos países europeus –o sistema público paga o medicamento nos casos em que o tratamento é bem-sucedido. "Lógico que a indústria tem que investir em pesquisa. Sem recursos, não dá para a medicina evoluir".

PROGRESSOS

Varella também traçou uma breve retrospectiva da evolução da oncologia clínica no Brasil ao longo das quatro últimas décadas. O médico atua na área desde 1972, período em que receber um diagnóstico de câncer equivalia a uma sentença de morte, e a oncologia era dominada pelos cirurgiões.

"Era uma época de drogas muito tóxicas, com muitos efeitos colaterais. Muitos pacientes morriam pela toxicidade do tratamento", afirmou Varella. Havia pacientes que recebiam alta do hospital porque não havia mais nenhum tratamento a ser oferecido, e muitas famílias escondiam o diagnóstico do próprio paciente.

As chances de cura para casos de leucemia nos anos 1970 não passavam de 20%, até que foram surgindo tratamentos mais exitosos para leucemias e tumores pediátricos.

Até o final do século 20, foi grande a evolução das metodologias de diagnóstico por imagem (tomografia computadorizada e ressonância magnética) que possibilitaram medir os tumores com maior precisão.

O avanço dos estudos sobre os mecanismos da carcinogênese abriu caminho para a pesquisa de moléculas que possam interferir na formação e multiplicação de células malignas, que são a nova fronteira do tratamento. "É nessa direção que a oncologia vai caminhar, e será um caminho sem volta", disse Varella.

Editoria de Arte/Folhapress
Veja o especial multimídia sobre os caminhos do combate à doença
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