Folha de S. Paulo


Saúde vai ficar pior do que está, diz secretário do Estado de São Paulo

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O secretário da Saúde do Estado de São Paulo, David Uip, diz que a situação do sistema de saúde deve piorar nos próximos anos. Em palestra nesta terça (12) durante o 2º Fórum a Saúde do Brasil, promovido pela Folha, o secretário apontou a queda de repasses do governo federal e a atual turbulência econômica como agravantes para um modelo já em crise.

"O cenário que temos hoje é inflação, desemprego. Quando o indivíduo fica desempregado, ele e a família perdem o plano de saúde e voltam para o SUS, e voltam com um grau de exigência maior do que eles tinham antes", disse Uip.

De acordo com o secretário, o repasse do Ministério da Saúde para os Estados representava 58,5% dos gastos em 2000. Em 2013, esse percentual caiu para 42,9%. No caso do Estado de São Paulo, o repasse passou de 39% em 2000 para 24,3% em 2013. A diminuição foi acompanhada por um maior investimento dos municípios da área. "Diadema, que deveria colocar 15%, coloca 34% [dos gastos com saúde]".

Jorge Araujo/Folhapress
David Uip, secretário estadual da Saúde de São Paulo abre o segundo dia do fórum no MIS, na capital
David Uip, secretário estadual da Saúde de São Paulo, abre o segundo dia do fórum no MIS, na capital

O subfinanciamento seria agravado pelo aumento da judicialização do setor, quando indivíduos entram na Justiça para obrigar o Estado a fornecer certos medicamentos ou procedimentos. São Paulo teria gasto R$ 542 milhões em 2014 somente com compra de medicamentos em razão de decisões judiciais. Em comparação, o Estado investiu cerca de R$ 1 bilhão na política de compra de medicamentos no mesmo ano.

Na mesma linha do que foi afirmado pelo ministro da Saúde, Arthur Chioro, durante palestra na manhã de segunda (11), Uip atribui à cultura do brasileiro de buscar as unidades de emergência para problemas que não requerem este tipo de atendimento como uma das razões da superlotação do sistema. Segundo ele, 81% dos pacientes que estão nos prontos socorros "não deveriam estar lá".

O secretário defendeu também a desburocratização do sistema, com a racionalização dos processos e acompanhamento de indicadores. "Eu fico sabendo [os dados de] mortalidade um ano depois que ela ocorreu. Como eu faço política pública um ano depois que ela ocorreu?"

Para ele, a gestão pública da saúde é uma "trama não resolvida" que precisa de maior transparência. "Essa história das OPMEs [órteses, próteses e materiais especiais] todo mundo sabia, mas ninguém queria colocar a mão na ferida", disse, referindo-se à máfia das próteses.


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