Folha de S. Paulo


Comida jogada em bairro nobre de São Paulo impressiona catadora

Com uma carroça vazia e muita energia, a mineira Edmar Imaculada Matoso, 43, chega às 17h para mais um dia de trabalho.

Lôra, como é conhecida, vai de Guianazes, na zona leste, onde mora, até o centro de São Paulo diariamente. Lá, ela coleta materiais recicláveis até as 23h.

O percurso, que passa por sete ruas da região, não é tranquilo. Taxistas buzinam com a proximidade do veículo de Lôra. Motoristas em carros de passeio fecham rápido os vidros.

Lôra mora com quatro de seus 12 filhos. A primeira coisa que eles perguntam quando chega em casa é se ela trouxe brinquedos. Uma vez achou um saco cheio de carrinhos, bonecos e até helicóptero de controle remoto. Tudo novo. "Meus filhos me fortalecem em tudo na vida."

Juca Varella/Folhapress
A catadora de materiais recicláveis Edmar Imaculada Matoso, 43, nas ruas de Higienópolis, bairro da capital paulista
A catadora de materiais recicláveis Edmar Imaculada Matoso, 43, nas ruas de Higienópolis, bairro da capital paulista

Quando anda em Higienópolis, Edmar se indigna com a quantidade de comida boa jogada fora. "Lixo de rico é assim mesmo: cheiroso", brinca.

Com o material vendido a um ferro-velho, já chegou a arrecadar R$ 40. Em dias normais, fatura até R$ 15. Ela tem sorte de usar a carroça emprestada de um amigo. Mas os catadores alugam ou compram esses veículos por até R$ 400.

Dados do movimento nacional de catadores mostram que, em São Paulo, um carroceiro coleta, em média, 600 kg de material reciclável ao dia. São 15 toneladas por mês.

Ainda de acordo com o movimento, 90% da reciclagem realizada no Brasil está nas mãos desses trabalhadores. Números do Ipea mostram que 400 mil catadores atuam todos os dias no país. Apenas 31,3% são mulheres como Edmar.


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