Folha de S. Paulo


Brasil só terá saneamento completo em 2060, diz professor da FGV

A situação do saneamento básico brasileiro é caótica, e, se os investimentos continuarem no mesmo passo, pode permanecer por mais meio século. A projeção feita pela Go Associados foi apresentada no Fórum de Sustentabilidade na manhã desta segunda-feira (2).

"Se mantivermos os atuais patamares de investimento em saneamento, só conseguiremos universalidade do saneamento em 2060", afirma Gesner Oliveira, professor da Fundação Getúlio Vargas e sócio da Go Associados.

Em 2014, a projeção é que se invista R$ 10,7 bilhões em projetos de saneamento básico e abastecimento de água. No ano passado, foram investidos R$ 10,3 bilhões, o que significa menos de 0,2% do PIB.

Oliveira nota que não adianta aumentar apenas o investimento para reverter a situação atual, onde 48,7% do Brasil tem sistema de esgoto. "Caso dobrem o investimento, a universalidade do saneamento chega em 2031, antes de 2033, data fixada pelo Plano Nacional de Saneamento Básico."

Segundo a projeção da Go Associados, é necessário aumentar a produtividade dos projetos de saneamento. Caso aumente em 30% a produtividade e mantenha os mesmos investimentos, por exemplo, o saneamento universal no Brasil chegaria em 2042. Oliveira observa que, se duplicarem os investimentos e a produtividade crescer 30%, em 2024, o Brasil estaria quase todo saneado.

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"O Brasil ainda está muito atrasado no tratamento de água e o que acontece no saneamento básico é uma tragédia", diz Oliveira. De fato, das 100 maiores cidades brasileiras, 64 possuem menos de 80% de seu esgoto coletado, destas, 47 têm um índice menor do que 60%. Estados como Pará, Piauí e Rondônia, diz Oliveira, tem menos de 10% de seus municípios com esgoto coletado.

Se a coleta do esgoto é escassa, o tratamento é ainda mais raro. Dos 100 maiores municípios brasileiros, a Go Associados mostra que 78 não possuem seus esgotos tratados. Nenhuma cidade brasileira possui mais do que 95% do esgoto tratado.

Oliveira usa a Copa do Mundo como exemplo. "Das cidades-sede da Copa do Mundo, apenas Curitiba está na lista das dez cidades com melhores índices de saneamento." De acordo com dados do ranking Trata Brasil, Curitiba possui 95,5% do seu esgoto coletado e 87% do seu esgoto tratado; os números de São Paulo são, respectivamente, 96% e 50%. Em contraposição, Manaus, outra cidade-sede da Copa, coleta 26,8% de seu esgoto e trata 22,8%.


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