Folha de S. Paulo


Para salvar botos, governo proíbe a pesca de piracatinga na Amazônia

A partir de janeiro de 2015, está proibida a pesca de piracatinga na Amazônia. Em decisão interministerial, o governo decretou a moratória de cinco anos para a pescaria da espécie no último dia 22 de maio.

O objetivo da proibição é preservar as comunidades de boto-vermelho, também conhecido como boto cor-de-rosa, que estão ameaçadas de extinção. A espécie é utilizada como isca para atrair o piracatinga.

"Quando um pescador captura um boto grande, em duas horas consegue pegar uma tonelada de piracatinga", explica Nívia do Carmo, pesquisadora e presidente da Ampa (Associação Amigos do Peixe-boi).

A Ampa é uma das entidades envolvidas na luta para instituir a moratória da pesca, que deve durar cinco anos. Até janeiro, as organizações ambientais vão pesquisar o comportamento da piracatinga para encontrar uma isca que substitua a carne de boto.

Anselmo D'Affonsêca/Ampa/Divulgação
Boto vermelho ou boto cor-de-rosa, espécie ameaçada pela pesca do piracatinga
Boto vermelho ou boto cor-de-rosa, espécie ameaçada pela pesca do piracatinga

"A pesca da piracatinga se intensificou em 2000. Em 2010, percebemos que houve uma queda muito grande da população de botos, de 10% ao ano, por causa disso", diz Nívia.

A exploração da piracatinga no Brasil começou há mais ou menos uma década. A carne desse pescado não é apreciada pela população ribeirinha, comenta a presidente da Ampa, porque trata-se de uma espécie que se alimenta de animais em decomposição no rio. Popularmente, o peixe é conhecido como "urubu da água".

O mercado consumidor é mesmo em capitais como Manaus, Belém, Rio e São Paulo, onde a piracatinga é comercializada como "filé de douradinho". "O peixe dourado é muito apreciado, porém é caro. Colocam esse nome como se fosse um 'dourado menor'. As pessoas estão sendo enganadas porque comem peixe que não faz parte de sua lista de alimentação", argumenta.

Para a presidente da Ampa, é difícil fiscalizar a atividade dos pescadores nos rios e afluentes do Solimões. "A fiscalização tem que se concentrar nos frigoríficos, que compram a mercadoria das comunidades. Se o pescador não tem como vender, também não tem como pescar", afirma.


Endereço da página: