Folha de S. Paulo


Cuidado paliativo na saúde avança no Brasil, mas ainda é isolado

As iniciativas de cuidado paliativo no Brasil avançam, mas ainda são isoladas e restritas, de acordo com um relatório divulgado em janeiro pela OMS (Organização Mundial da Saúde).

O cuidado paliativo é a área da medicina que cuida de pessoas com doenças graves, incuráveis e terminais. Sua finalidade é melhorar a qualidade de vida do paciente, aliviando a dor, os sintomas e a ansiedade, e fornecer apoio para a família. ((troquei de ordem))

No documento internacional, os países foram classificados em quatro grupos, de acordo com o nível de desenvolvimento do cuidado paliativo, sendo 1 o pior e 4 o melhor. O Brasil ficou no grupo 3, com outros 94 países. Neles, o financiamento do cuidado paliativo é dependente de doações privadas, a disponibilidade de morfina é limitada e há poucas unidades de assistência, os chamados "hospices".

DOENÇAS CRÔNICAS

O tratamento é cada vez mais necessário em países onde a principal causa de morte são as doenças crônicas, como câncer, diabetes e distúrbios respiratórios. Essas doenças geralmente progridem lentamente e os pacientes morrem após meses ou até anos de sofrimento.

A predominância de doenças crônicas é típica de países que passam por envelhecimento populacional, processo comum em regiões desenvolvidas. Não à toa, a primeira unidade de saúde especializada em cuidado paliativo no mundo, o Christopher's Hospice, foi aberta em Londres, ainda em 1967. O Reino Unido atualmente é referência na área, junto com outros países ricos, como Estados Unidos, Austrália e Noruega.

O Brasil apresenta perfil demográfico semelhante ao dos países desenvolvidos, com um ritmo acelerado de envelhecimento da população. Aqui, as doenças crônicas respondem por 72% do total de mortes, de acordo com dados do Ministério da Saúde.

AVANÇOS

Para a presidente da ANCP (Academia Nacional de Cuidados Paliativos) Maria Goretti Sales Maciel, o cuidado paliativo está avançando no Brasil. "Em 2012, tínhamos 82 unidades de cuidado paliativo no país. Hoje estimamos que haja mais de cem", afirma. "Aumentou também o número de residências médicas na área. Eram apenas três em 2013 e hoje são entre 15 e 20."

O Ministério da Saúde criou, em 2013, um grupo de trabalho interno para fortalecer as ações na área de cuidado paliativo. Por enquanto, ainda não existe uma pauta de discussões definida.

Três pontos-chave ainda precisam ser regulamentados e devem nortear o trabalho da comissão, segundo Maria Goretti.

O primeiro é a política de acesso e controle de medicamentos, sobretudo os analgésicos. Eles são tão essenciais no cuidado paliativo que a OMS considera a disponibilidade de morfina, um potente analgésico, um critério importante na avaliação dos países.

O segundo ponto é a delimitação das funções de cada nível de atendimento, definindo quando o atendimento deve ser realizado no posto de saúde, num hospital de referência e na casa do paciente.

Por fim, a médica destaca a necessidade de uma política de formação de profissionais da saúde especializados em cuidado paliativo e a abertura de mais residências médicas na área.

A OMS estima que, no Brasil, entre 521 mil e 536 mil pessoas precisam de cuidado paliativo. No mundo todo, a soma dos pacientes que estão morrendo lentamente e carecem de alívio é estimada em 20,4 milhões.


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