Folha de S. Paulo


Modelo em que SUS se inspirou também vive crise no Reino Unido

O Serviço Nacional de Saúde (NHS, na sigla em inglês) britânico, modelo no qual o SUS brasileiro se inspirou, está sob alerta após recentes prejuízos e descumprimento de metas.

Considerado modelo de gestão, o sistema dá sinais de estagnação, sobretudo pela combinação entre falta de dinheiro, população maior e estrutura saturada.

O governo britânico, principalmente depois da crise de 2008, tem congelado os investimentos no NHS. O serviço foi criado pelos trabalhistas em 1948, após a Segunda Guerra, com o conceito de um sistema médico todo subordinado ao governo, sem custo para os pacientes e financiado por impostos.

O princípio do NHS sempre foi a gratuidade no "ponto de uso", no atendimento imediato. Cada bairro tem seu clínico-geral, que faz a avaliação primária e encaminha o paciente, se necessário, para tratamento no hospital, este também gratuito.

Desde sua criação, várias reformas foram feitas por governos conservadores e trabalhistas. Há alguns gastos para o paciente, como em tratamentos dentários e medicação. No caso dos prescritos, há subsídio: com receita do NHS, o remédio custa até £ 7,85 (cerca de R$ 30).

Todo cidadão com residência fixa, incluindo imigrantes legais, tem direito ao sistema, mas o controle é falho para barrar os ilegais.

Estudo do "think tank" Institute for Fiscal Studies vê risco de colapso do NHS em cinco anos se não houver mais investimentos. O orçamento anual só recebe a correção da inflação. O governo diz proteger o NHS dos cortes nas contas públicas.

A análise do IFS é simples: entre 2010 e 2018, a população, hoje de 63 milhões, vai crescer em ao menos 3,5 milhões, graças ao avanço na expectativa de vida e na imigração. A parcela acima de 65 anos, que demanda mais serviços de saúde, deve aumentar 2 milhões, de 16,5% para 18,6% da população.

Mantida a verba no atual nível, o gasto por paciente cairá 9,1% no período, o que poderá afetar a eficiência.

Outro reflexo da deterioração do sistema, segundo especialistas: pela primeira vez em oito anos, 26 hospitais apresentaram prejuízos, que somam R$ 1,75 bilhão.

Pelas regras do NHS, nenhum paciente pode esperar mais de 18 semanas para iniciar tratamento ou fazer cirurgia. Mas em janeiro esse prazo estourou para ao menos 190 mil pacientes, revelou o jornal "The Guardian".

Para o diretor-chefe do NHS, David Nicholson, sem mais recursos, os serviços dos hospitais serão "dramaticamente" afetados.


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