Folha de S. Paulo


'Programa Mais Médicos tem objetivo eleitoreiro', diz professor da USP

Na manhã desta quinta-feira (27), o secretário de Gestão do Trabalho e da Educação na Saúde, Mozart Sales, e o professor titular de urologia da USP, Miguel Srougi, travaram um dos debates mais quentes do Fórum a Saúde do Brasil. O embate ocorreu durante o painel "Efetividade do programa Mais Médicos".

Para Srougi, que inaugurou o debate, o governo deveria utilizar uma maioria de médicos brasileiros no programa, em vez de cubanos, e sempre acompanhados de uma equipe multidisciplinar, com enfermeiros e paramédicos, no interior do país.

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"O Brasil forma 13 mil médicos por ano, por que não dar a esses jovens a oportunidade de trabalhar em locais distantes?", questionou Srougi. "E por que não montar uma equipe multidisciplinar para ir até o rincão? Não adianta largar os médicos em locais distantes sem apoio de estrutura, sem apoio de pessoal, sem perspectiva de progredir".

Sentado a poucos centímetros do secretário Mozart Sales, principal porta-voz do Ministério da Saúde quando o assunto é Mais Médicos, Srougi foi enfático ao afirmar que o programa federal cumpre um "objetivo eleitoreiro".

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"O processo do Mais Médicos foi instituído enganando a nação. É insensível e incompetente, com objetivo eleitoreiro e de atender ao clamor das ruas", afirmou.

Segundo o professor, existem maneiras mais consistentes de lidar com a falta de médicos no país. "Não há nenhum indivíduo com integridade mental que discorde de mais médicos nos rincões. Mas no Canadá, por exemplo, o estudante vem de uma universidade bem ranqueada, a esposa recebe um emprego, a família recebe todo o apoio. Por que no Brasil não acontece assim?"

Uma das soluções, segundo Srougi, é a distribuição, por parte do governo federal, de mais recursos para a saúde. "O governo não dá dinheiro para saúde, só discurso. O Brasil dá um terço do que dão outros países. Existe um discurso demagógico e a saúde do Brasil não vai sair desse patamar se forem colocados incompetentes para dirigir o processo".

O secretário Mozart Sales não se intimidou. Encarando Srougi e com voz firme, Sales utilizou números para rebater os argumentos do professor.

Segundo o secretário, a necessidade de se trazer médicos estrangeiros ao país é fruto do aumento de vagas para médicos nos últimos anos. "Os médicos brasileiros são competentes e qualificados, mas as vagas aumentaram muito, houve um aumento de vagas na medicina de 94% de 1993 a 2010". Com isso, segundo o secretário, o médico agora pode escolher onde trabalhar e não sobram profissionais para áreas carentes.

Mozart também negou que os inscritos no programa não sejam acompanhados de equipes no interior do país. "O Mais Médicos é um programa de importação multiprofissional, o médico não está lá sozinho, largado, está com enfermeira e equipe. É preciso verificar essa realidade que está acontecendo", disse.

O secretário também citou o investimento de R$ 260 milhões, por parte do governo federal, na ampliação de vagas de residência médica no Brasil, além da construção de 10 mil novas unidades de saúde espalhadas pelo país, além da reforma de outras 17 mil.

"Todos os países regulam a formação de especialistas para trabalharem na saúde de família. Não é ditadura. Inglaterra, Holanda, França, todos fazem isso. 40% dos médicos da Espanha passam por empregos na saúde de família", disse Sales.

Por fim, elogiou de maneira exageradamente contundente o programa Mais Médicos, arrancando risos da plateia. "O povo está tendo mais do que beijinho, está tendo a mão fraterna e competente de um médico, nada substitui um médico na possibilidade de oferecer assistência".

O Mais Médicos é um programa federal, iniciado em setembro de 2013, que busca suprir a carência de médicos em periferias de grandes cidades e no interior do país. Atualmente, atendem pelo programa 9.501 médicos –87% são estrangeiros.


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