Folha de S. Paulo


Em meio à burocracia, Poupatempo da Sé vira casa de galo, galinha e pintinhos

Ninguém dorme no ponto no Poupatempo da praça da Sé. Um galo começa a cantar às 5h na repartição pública e só larga do batente vocal depois do meio-dia.

O nome do despertador empenado é Saci, por motivos óbvios ao olhar: um de seus pés de galinha não está lá. Mas o fato de ser manco não para a ave cor de ferrugem: a sãopaulo a viu entrando e saindo do prédio, cheio de gente, durante o horário comercial.

Saci é pai de uma família que mora no jardim do órgão, criado para agilizar a emissão de RG e outras burocracias documentais.

Mais recatada, num canto do jardim, fica a galinha Pintadinha (por ser preta com sardas marrons).

Debaixo de sua asa ficam quatro pintinhos nascidos há dois meses. O clã virou mascote dos funcionários e come milho dado por eles.

QUEM VEIO ANTES?

Há divergências sobre a origem da família emplumada. "Fugiram de um prédio ocupado aqui do lado", diz um segurança. "Foi uma mulher que saiu do metrô, vindo não sei de que roça pra tirar documento aqui, que deixou dois pintinhos. Cuidamos deles e viraram o Saci e a Pintadinha", garante a faxineira Carla. Os dois pedem anonimato por medo de estarem fazendo coisa errada ao adotar os bichos. Não estão.

O governo do Estado, responsável pelo Poupatempo, diz que não há lei que proíba a presença do galo e família no local. Em nota, complementam: "Salientamos que as aves não interferem na rotina de atendimentos do Poupatempo Sé, que, segundo pesquisa do instituto Vox Populi, recebe aprovação de 95% de seus usuários". Humanos, porque o contentamento galináceo deve chegar a 100%.


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