Folha de S. Paulo


Conheça o escritor que é pago para viajar pelos lugares mais incríveis do mundo

Acordar cedo, encarar o trânsito, obedecer às ordens do chefe e voltar para casa a tempo do futebol na TV.

Soa como um dia qualquer? Não para o escritor norte-americano Kevin Raub, 40 --pago há nove anos para viajar pelo mundo e relatar suas aventuras em guias e revistas de viagem.

Alto, loiro, branquelo, com cara (e nome) de gringo, Kevin coleciona 78 carimbos diferentes em seu passaporte --do topo do vulcão El Toco, no Chile (6.000 metros de altitude), às profundezas do Mar Morto, em Israel (422 metros abaixo do nível do mar).

Seus textos mais recentes estão na nova edição do guia "Lonely Planet Brasil", lançado neste mês. A marca já vendeu 100 milhões de exemplares descrevendo mais de 500 destinos.

O nome vem de uma confusão dos fundadores: trocaram "lovely planet" ("planeta encantador"), de uma música de Joe Cocker, por "lonely planet" ("planeta solitário"). Assim registraram, por engano, o que se tornaria o guia turístico mais famoso do mundo.

'SOU PAGO PARA ISSO'

Kevin obedece a duas regras básicas: viajar sem roteiro pré-definido e manter anonimato nas visitas --para evitar ser paparicado em hotéis e passeios que pode incluir em sua seleção, ninguém sabe que está trabalhando.

"É o melhor trabalho do mundo na maior parte do tempo", diz o viajante.

Num intervalo que vai de cinco a nove semanas, sua tarefa é passear a esmo pelo país escolhido em busca de "lugares e pessoas incríveis". Kevin não fala sobre valores, mas diz que o que ganha "é suficientemente justo".

Além de mapear pontos turísticos, cabe-lhe a ingrata missão de experimentar bons restaurantes e bares. "Então você pode beber durante o trabalho?", pergunta a sãopaulo. "Sim, e sou pago para isso." Sem modéstia.

O lado ruim: "Se hoje você tem uma noite louca, amanhã precisa continuar circulando, de ressaca ou não".

Ser estrangeiro todo o tempo pode ser legal --mas não necessariamente é a tarefa mais fácil do mundo. Em Caracas, na Venezuela, Kevin levou um soco no rosto de um taxista que queria cobrar a mais pela corrida.

"Quando chegamos no hotel, ele pulou do carro e me bateu", diz. "Foi assustador, porque ele sabia onde eu estava e podia voltar com amigos. Ou uma arma. Ou os amigos e uma arma."

A Venezuela é um dos lugares mais caros que visitou (numa lista que também inclui China, Islândia e Brasil). "Isso no câmbio oficial. Mas ninguém em sã consciência usa esse câmbio por lá. É sempre o mercado negro."

Já o mais barato foi a Índia. "Você pode viver como um rei com muito pouco dinheiro. E poucos monumentos correspondem às expectativas, mas o Taj Mahal facilmente supera."

A vida boa não começou agora. Antes de escrever sobre turismo, entrevistava mulheres para revistas masculinas nos EUA. "Tinha três horas para conversar sobre sexo com meninas gostosas de 20 anos. Falei com [a atriz] Jessica Alba quando ela só tinha 19."

Numa viagem a Fernando de Noronha, em 2005, Kevin enfim sossegou. Apaixonou-se pela guia turística (uma brasileira), com quem se casou e veio morar em São Paulo. Nas últimas férias, cruzaram a Escócia de carro. Um ano antes, foram para a Tailândia. Em 2011, foi a vez de Grécia e Turquia.

Ele não compartilha da velha história do funcionário da fábrica de chocolates que não consegue ver uma barra sequer pela frente. "Se passo dois meses sem viajar, fico nervoso."


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