Folha de S. Paulo


Padarias centenárias são parte da história de São Paulo

Uma das melhores atrações do Bixiga, no centro de São Paulo, é o tour pelas padarias centenárias. Com jeitão de empório italiano, suas histórias se confundem com a da cidade.

Fundada em 2 de julho de 1913 pelo calabrês Domenico Albanese, a São Domingos, localizada na rua homônima no Bixiga, completou seu centenário em julho deste ano.

Sílvio Albanese, bisneto do fundador e um dos sócios da casa, ao lado da irmã Eliana, herdou a tradição oral da família e as histórias relacionadas à São Domingos, cuja narrativa se confunde com a formação da capital.

Uma delas: durante a revolução paulista de 1924 revoltosos invadiram o recinto e levaram os pães na marra, para pasmo de seu Domenico. Já durante a 2º Guerra Mundial, o fascismo de Mussolini despertou hostilidade em relação à colônia.

"Mas a pior fase que nós tivemos foi de 1968 a 1972, quando estavam construindo o Minhocão. Uma carta da prefeitura avisou que iam demolir a padaria, foi uma tristeza geral", relembra Sílvio.

Anita Albanese, mãe de Sílvio, interveio junto a sua vasta clientela e o projeto acabou sendo deslocado em dois metros, preservando a padaria.

Nos anos 1970, o general e chefe do SNI (Serviço Nacional de Informações), Golbery do Couto e Silva, era frequentador assíduo e solicitava à dona Anita exclusividade no atendimento --talvez o próprio tenha intervindo na alteração do projeto do elevado Costa e Silva.

Um dos fornos da São Domingos é artesanal e data da inauguração, uma verdadeira relíquia. Junto a um forno industrial, ali são assados até 3.000 pães ao dia (pães italianos e pães recheados com calabresa) que abastecem restaurantes badalados como Le Jazz, La Pasta Gialla, Andiamo e Jardim di Napoli.

Alguns metros à frente fica a 14 de julho, fundada em 1897 por Rafaele Franciulli e há 20 anos sob a gestão de Alexandre Franciulli. A casa oferece 36 tipos de pão recheado e assa, em média, 1.000 ao dia, em um forno de alvenaria de época ainda preservado.

Redes como Mambo e Pão de Açúcar, além de restaurantes de Santos, Praia Grande e Guarujá, cidades do litoral paulista, utilizam os produtos da 14 de julho.

Fechando o trajeto centenário, do outro lado da 13, na rua Rui Barbosa, se encontra a Italianinha, simpático empório cuja data de inauguração é 1896.

Ali são encontrados os tradicionais quitutes italianos como alicella, berinjela cozida, pesto e abobrinha à moda da casa, além de massas artesanais e doces diversos, além de doces, laticínios e massas artesanais.

Uma visita ao bairro vale ainda para ver a arquitetura das casas e cantinas coloridas, teatros como o Oficina, o Sérgio Cardoso e o Teatro Brasileiro de Comédia (TBC), a feirinha de antiguidades aos domingos na praça Dom Orione, a casa de Dona Yayá e o samba da Vai-Vai, que completa o rico mosaico afro-italiano do bairro.

A PRÓXIMA CENTENÁRIA

Na rua 13 de maio encontra-se a Basilicata, fundada em 1914 por Filipe Ponzio, tio-bisavô de um dos quatro sócios atuais, Toninho Neto.

Ali são consumidas uma tonelada de farinha de trigo diariamente, um montante de 5.000 pães assados em três fornos (um deles de pedra, alimentado a lenha), número que pode dobrar aos finais de semana.

"Restaurantes como Ráscal, Gigetto, Lélis, Roperto, Bassi e Mexilhão servem as brusquetas e torradas com nossos pães", orgulha-se Toninho.

Na Basilicata ainda encontram-se mortadela, manteiga (alemã, francesa, italiana), presunto cru, macarrão e queijos de qualidade excepcional.

São Domingos
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14 de Julho
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A Italianinha
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Basilicata
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