Folha de S. Paulo


Saiba quem é Thairine Garcia, a nova sensação da moda com apenas 15 anos

De jeans, camiseta, tênis e cabelos presos num rabo de cavalo, Thairine Garcia, não fosse o quase 1,80 m, passaria batido pelas ruas paulistanas.

Um ou outro, talvez reparasse na brancura extrema. Olhares mais atentos, porém, detectariam olhos tão azuis, mas tão azuis, que são quase transparentes. Além de pernas que não acabam nunca mais e joelhos pontiagudos. Longe dos flashes, o jeito é de menina. Quando sorri, duas covinhas não muito profundas surgem nas bochechas magras.

Na tarde em que fotografou para a capa da sãopaulo, era Dia da Criança. Ao chegar ao estúdio, no bairro da Bela Vista, todos a cumprimentavam: "Thairine, parabéns! Vai ganhar presente hoje, gata?". E ela: "Vou pra minha cidade encontrar meus irmãos. Minha mãe não vai me dar nada, mas se você quiser eu aceito uma bota Chanel", dizia enquanto comia uma paçoquinha.

CAMALEOA

Quando a câmera aponta, porém, a Thairine sorridente, de costas um pouco curvadas, desaparece. Com os ombros jogados para trás, todo o resto se transforma. A boca fica entreaberta, o queixo abaixa e o olhar se afia.

"Thairine é uma camaleoa. Ela muda de cara, de atitude e de corpo a cada foto. Entende rápido seu papel no set", diz Maria Prata, a editora-chefe da revista "Bazaar".

O fotógrafo Gui Paganini, habituado a clicar a modelo desde os 12, afirma que, apesar da pouca idade, o resultado que a paulista imprime é especial. "A fotogenia de Thairine é absurda, e ela sabe colocá-la em prática", diz. A stylist Flávia Lafer comenta: "A luz reflete no tom de pele da Thairine".

"É um tipo de modelo que não tem surgido ultimamente: é bonita de verdade, quando normalmente as meninas são estranhas. E gosta muito de ser modelo, está sempre disposta a fazer os sacrifícios que a carreira pede, não reclama de nada", diz Susana Barbosa, editora-chefe de "Elle".

MARC JACOBS

Como se vê, no mundo da moda, ela não é novidade. A nossa próxima top model tem apenas 15 anos, 1,79 m de altura, 80 cm de busto, 60 cm de cintura, 89 cm de quadril. O peso, ela não fala. O manequim 36 é mantido à base de salada "até no inverno, saco...".

Com uma carreira que pode ser considerada meteórica, a paulista (não, ela não é gaúcha nem catarinense) nascida em Barão de Antonina emplacou uma capa de "Elle Brasil" quando tinha apenas 13 anos.

Na mesma época, causou polêmica ao ser convidada para desfilar para o estilista Marc Jacobs. Na semana de moda de Nova York, o recomendado é que a idade mínima das garotas seja de 16 anos. Desfilou. Mas depois não pode mais fazer nenhum. A fiscalização do evento ficou de olho na Thairine.

Depois disso, emplacou capa da "Vogue Itália", clicada pelo badalado fotógrafo Steve Meisel, teve o rosto estampado na "V Magazine" e três capas da brasileira "Harper's Bazaar". Estrelou campanhas como a do perfume Anna Sui, da gigante de departamentos Bergdorf Goodman, cosméticos MAC, C&A, Osklen, Colcci e Tufi Duek.

BARRADA

Mesmo com tanta exposição, na semana do dia 28 de outubro, quando começa a São Paulo Fashion Week, Thairine não caminhará sobre as passarelas.

Tem sido assim desde 2011, pois a política do evento é similar à nova-iorquina, e o aniversário de Thairine é só em dezembro.

"Não consigo nem te explicar o tamanho da minha ansiedade, parece que esse dia não chega nunca", diz a menina, esfregando as mãos. Apesar da expectativa, ela apoia a política. "Se eles não te segurarem, ninguém segura. É bom se habituar aos poucos a esse ambiente. Venho de outro mundo. Quando comecei, tinha vergonha de passar batom."

Thairine ainda não sabe se já é o mulherão que imprime nas revistas ou a garota de Barão de Antonina, município com menos de 3.000 habitantes cravado a 380 km a sudoeste da capital.

Durante os trabalhos, não desgruda do celular. Posta fotos no Instagram, conversa com amigas por torpedos e mostra fotos ao lado dos irmãos.

"Quando eu era criança", diz ela, "era fã do desenho "Mulan", da Disney. Agora, comenta sobre seus seriados americanos favoritos, como "Orange Is the New Black" e "Homeland". Quer ver "Breaking Bad", mas ainda não começou.

"Fui fazer umas fotos na África do Sul. Quando acabamos o trabalho, a equipe queria ficar passeando para ver natureza. Não entendi, preferi ficar no hotel. O pôr do sol da minha cidade é mais bonito que aquele", afirma.

Atual aluna do segundo ano do ensino médio no colégio Avanço, na Vila Olímpia, não gosta de números e adora História. "Nessa escola tem muita modelo e uns caras de família rica, sabe? Eles são bem flexíveis com horário. Lá, quando conto que fui pra Nova York, ninguém estranha. Já na minha cidade, todo mundo quer saber como é."

Em 2010, o irmão mais velho (e melhor amigo) Patrick, 17, trabalhava em uma fábrica de jeans. Foi quando ele ouviu no rádio que na cidade vizinha de Santo Antônio da Platina, já no Paraná, haveria uma seleção de modelos.

Na segunda fase da competição, 9 das 14 agências que participaram da seleção ficaram interessadas em trabalhar com a garota.

QUARTEL

"Depois desse dia, nossa vida nunca mais foi a mesma", diz Cláudia Garcia Ribeiro, 35, mãe da "new face". "Desde pequena, ela chamava muita atenção pela exuberância e pela altura", completa.

A mãe de Thairine é soldado da Polícia Militar. O pai saiu de casa quando a filha ainda era bem pequena. Criou os três filhos sozinha, com o salário da corporação.

"Minhas crianças sempre foram disciplinadas. Cuidavam um do outro, nossa casa era um quartel", diverte-se.

Quando a carreira da menina começou a decolar, a mãe optou por pedir licença das obrigações militares durante dois anos. "Eu a acompanhava em tudo. Tenho medo de que se relacione com pessoas erradas e se decepcione", diz.

Desde que a mãe voltou à ativa no batalhão, há quatro meses, Thairine mora com uma amiga em um apartamento próprio no Morumbi. Assim, todo final de semana, Cláudia enfrenta quase 400 km de estrada (só de ida) para encontrar a menina.

Até já poderia largar o emprego, pois o padrão da vida familiar mudou bastante. Mas ela adora ser policial e se orgulha da profissão.

"E minha mãe guia muuuuuito e consegue fazer o percurso em menos de 4 horas", diz Thairine, que adora ser modelo e também se orgulha da profissão --e da mãe.


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