Folha de S. Paulo


Craque no basquete, idoso brinca todo fim de semana em parque de diversões de shopping

Os sons futuristas dos brinquedos misturam-se à gritaria da meninada ensandecida. "Pai, posso jogar mais?" "Mãe, ganhei, ganhei." "Vô, eu quero..." "Tio, me dá-a-a."

Como num cassino mirim, crianças torram créditos na Playland do shopping Eldorado, na zona oeste. A lógica é esta: quanto mais a pessoa joga, mais tíquetes ganha, e quanto mais tíquetes acumula, melhor é o brinde pelo qual pode trocá-los.

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Dos 2.500 visitantes que passam por ali toda semana, Takezi Motoda, 73, presume-se, é só mais um vovô na bagunça. Mas, em vez do neto, o que ele segura é um enorme bolo de tíquetes, seu pequeno tesouro.

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Sozinho, Takezi brinca na Super Shoot, máquina que simula um jogo de basquete. Cada partida custa R$ 2,90. Em 70 segundos, ele faz, em média, 55 arremessos, com 50 acertos (às vezes acerta todos), o que lhe rende 200 tíquetes. A brincadeira, que ele chama de terapia, chega a custar R$ 560 por mês.

"As crianças olham, pedem para eu ensinar. Mas não adianta, tem que ter boa pontaria, noção de espaço, aquela habilidade", explica o Oscar Schmidt da Playland, que é dono de um escritório de contabilidade.

Sem nunca ter jogado basquete de verdade, "aquela habilidade" ele vem adquirindo há 25 anos, quando começou a frequentar, com os filhos pequenos, as áreas de lazer dos shoppings (Center Norte, Morumbi, Eldorado e outros).

Os meninos cresceram --hoje têm 38 e 32 anos--, mas Takezi, que ainda não tem netos, não parou.

"Vou quase todo fim de semana. Não conheço ninguém que seja melhor do que eu, e o pessoal que trabalha aqui também não", confessa, sem graça com a falta de modéstia.

Seus montes de tíquetes, ele conta, são trocados por brindes, com os quais presenteia amigos ou negocia com pessoas que ele conhece no próprio shopping. "Outro dia troquei por um urso de pelúcia que valia 11 mil tíquetes e o vendi. Também teve uma Ferrari de controle remoto, que valia 18 mil. Recupero 70% do que invisto para me divertir", diz.

"Na década de 1990 é que foi bom. Cheguei a trocar por seis videocassetes, quatro aparelhos de DVD e cinco televisores", lembra.

Enquanto isso, as crianças se contentam com miudezas, como gelecas e molas-malucas, tudo o que seus tíquetes podem lhes proporcionar.


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