Folha de S. Paulo


Shoppings do futuro deixam o modelo 'caixa de sapato' e apostam em interação com a rua

Vagar dentro de uma grande caixa fechada para o mundo, sem relógios nem iluminação natural (adeus, noção de tempo e espaço), num labirinto de consumo, é tão anos 1980. Os shoppings de hoje têm corredores largos, áreas de estar e buscam trazer o máximo de luz e paisagem para o interior.

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O objetivo segue o mesmo: fazer as pessoas comprarem. A estratégia é que mudou. Em vez de desnortear a clientela, a ideia é atraí-la para um ambiente agradável, onde tenha vontade de passar tempo (e aí têm as paradas para almoço, cafezinho, paquerar na vitrine aquela camisolinha...).

Essa tendência aparece forte nos shoppings mais novos, como JK Iguatemi (de 2012), e nos que estão por vir, como o Cidade São Paulo, na av. Paulista (cuja obra, prometida para o final de 2014, foi contestada na Justiça).

No passado, esses centros imitavam o "shopping mall" dos EUA. "A pessoa perdia a noção do que acontecia do lado de fora, se focava nas compras", diz o arquiteto Luiz Felipe Aflalo, do escritório Aflalo e Gasperini, que projetou o Cidade São Paulo.

E essa obra quer ser uma extensão (envidraçada) da redondeza. Terá vista para um jardim na rua Pamplona, por meio de janelas de 12 m de altura.

A praça de alimentação terá uma grande claraboia. Nos corredores (ao menos 8 m de largura), cafés e áreas de estar, com sofás e plantas.

"O usuário vai para se divertir e acaba consumindo", diz Aflalo. Tudo bem diferente do modelo "caixa de sapatos" de shoppings como o Center Norte, na zona norte, de 1984.

A estratégia também tem a ver com a valorização da vida urbana. "Os apartamentos são cada vez menores, e as pessoas sentem necessidade de viver a cidade", diz Aflalo.

Mas o arquiteto pondera: "Lógico que andar numa rua bacana, bem arborizada, é muito mais interessante."

Para o crítico de arquitetura Fernando Serapião, essa nova arquitetura do consumo é uma tentativa de "simular a rua". E não tão nova assim, embora a ideia apareça com mais força hoje.

De 1966, o Iguatemi, na av. Faria Lima, já era aberto para uma praça interna no projeto original.

"Mas ninguém quer a parte ruim da rua: a sujeira, a insegurança", diz Serapião. Para ele, há coisas do asfalto que são boas, "mas as pessoas percebem como ruins, como a mistura de público". Cita o exemplo da rua Oscar Freire, onde quem vai às lojas "convive com os meninos que pedem para engraxar seus sapatos".

Graxa não pode, mas a nova geração de shoppings tem decoração menos rebuscada. "Granito, como no Iguatemi e no Eldorado, é passado", diz Washington Fiuza, diretor regional do Arquitectonica, escritório internacional que já desenhou mais de 70 shoppings (por aqui, o JK). Os materiais ficam mais simples, vide o piso de madeira no Morumbi pós-reforma.

Esse acabamento "doméstico" inclui até tapetes e dá sensação de "aconchego", afirma Cláudio Sallum, diretor da Lumini, empresa que dá consultoria para shoppings.

TUDO O QUE COUBER

JK e Cidade Jardim são exemplos de outra tendência: espaços multiuso.Unem shopping, escritórios, apartamentos, hotel. Tudo o que couber.

Ainda sem previsão de lançamento, o Parque Global incorpora essa proposta. Será erguido na marginal Pinheiros com seis torres residenciais, duas de escritórios, shopping com o dobro do tamanho do Iguatemi, hotel e um centro de espetáculos para 5.000 pessoas, num total de 800 mil m². Valor de venda estimado: R$ 8 bilhões.

Washington Fiuza aponta uma vantagem do complexo: "É possível morar, trabalhar, ir às compras e ao cinema num raio de 500 metros".

A vida num outro tipo de caixa.


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