Folha de S. Paulo


Alfaiates do centro de SP continuam vestindo poderosos, mas agora vão até cliente

Milton Silva, 72, e José Cozzi, 60, trabalham com a mão mais firme do que nunca. Mas esses renomados alfaiates do centro também têm exercitado bem os pés, para ir até onde os clientes estão. "Muito pouca gente vem aqui. Eles têm medo. Preciso ir até a casa deles", afirma Silva.

A falta de estacionamento e de segurança afastam os homens elegantes da vizinhança, dizem os modistas. Um dos poucos que passam em pessoa pelo ateliê de Silva, cercado por escritórios de turismo numa galeria da av. São Luís, é o governador Geraldo Alckmin. "Ele gosta de comer em restaurantes simples aqui perto."

Mas se clientes como o ator Tony Ramos e o apresentador José Luiz Datena não vão até Silva, Silva vai até a casa ou ao escritório deles, do Jardim Europa à Vila Nova Conceição. Pelos ternos de tecido europeu que faz, cobra de R$ 5.000 a R$ 15 mil.

Já José Cozzi costura para Faustão e grandes escritórios de advogados. Calcula recepcionar na sua lojinha "uns 20 clientes por mês".

"O centro ainda é passeio para alguns, mas para a maioria eu tenho de sair e atender em casa, não tem jeito", diz Cozzi, que chegou em 1964 à rua Coronel Xavier de Toledo, a dois quarteirões do vale do Anhangabaú.

"Antes era bonito por aqui, elegante. Daí a vizinhança passou por uma fase de abandono geral e agora melhorou um pouco. Mas pouco."

Passado bem passado

Sair de perto do Marco Zero da cidade não é cogitado por dois fatores. 1) Os dois ainda amam o centro. 2) Custaria dinheiro. "A mão de obra já é um pouco cara. Se você vai para um bairro mais nobre, encarece ainda mais a roupa", diz Silva.

O nome deles virou grife quando a rua Barão de Itapetininga era o maior polo de moda masculina paulistano. O fotógrafo Bob Wolfenson, 59, lembra-se da época em que o centro era um passeio sob medida.

"Meu pai me levava muito lá, onde havia o alfaiate Leonardo, encarregado de torná-lo ainda mais elegante. Estas incursões, nos anos 1960, faziam a alegria de meus sábados."

Mas a concorrência foi mirrando até que restaram poucos modelistas de roupas masculinas. "Estamos praticamente sós hoje", diz Cozzi. "Agora todos compram em shopping."

Nenhum dos dois treina aprendizes para manter a linha correndo no tecido depois que pararem de trabalhar. Para Cozzi, "é uma carreira que pode morrer no centro antigo".

José Cozzi. R. Cel. Xavier de Toledo, 264, 5º andar, República, São Paulo, SP. Tel. 0/xx/11/3214-3537. Seg. a sex.: 8h às 18h. Sáb.: 8h às 13h. c

Silva. www.ternossobmedida.com.br. Av. São Luís, 187, 2º andar, lj. 16, República, São Paulo, SP. Tel. 0/xx/11/3159-5022. Seg. a sex.: 8h às 18h. CC: AE, E, M e V.


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