O dono do Sebo do Messias tinha 13 anos quando abandonou a vida pobre nos sertões do norte de Minas Gerais para encarar o admirável mundo novo de São Paulo.
Deixou o "preconceito de lado" e foi trabalhar como garçom para pagar as contas do cortiço em que vivia. Mas sua odisseia só começaria no emprego seguinte, como vendedor de enciclopédias de porta em porta.
Deu certo. Hoje, o simpático Messias Antônio Coelho, 72, é dono de uma coleção de 150 mil títulos e de uma das lojas de usados mais requisitadas do país. Pretende ir além: no fim de outubro, lança seu segundo site, o Leilão do Messias, complementar ao atual www.sebodomessias.com.br.
"Se não fosse a internet eu não estaria onde estou", diz o velho Messias, que emprega as duas filhas e 50 funcionários nos 2.000 m² que ocupa na praça João Mendes, atrás da Sé.
"Amigão" de Jô Soares ("ele sempre telefona dizendo que está com saudades"), diz que a crise do mercado literário não chegou à sua porta. Vende para Estados Unidos e Europa e afirma estar há 22 anos sem férias.
Não há restrições com autores: "Compro todos". E o mais vendido está na ponta da língua: "Jorge Amado".
Conhecido pelos preços camaradas (dá para encontrar títulos da editora Cosac & Naify por R$ 7,50), ele também tem raridades (como um livro inglês de 1818 sobre a Coreia, a R$ 3.920).
Nossa conversa é interrompida por um funcionário. "Messias, licença. A moça quer alugar dez metros de livro."
"Acontece", comenta o veterano. "Principalmente em época de eleição: os candidatos alugam capas duras para passar credibilidade."
Pça. Dr. João Mendes, 140, tel. 3104-7111. Seg. a sex.: 9h às 19h. Sáb.: 9h às 17h.