Folha de S. Paulo


Lanterna que dá choque é nova moda (ilegal) na região da 25 de Março

Por entre os gritos de "Olha o tira pelo e tira bolinha da roupa" e berros de "Raquete mata mosca, mosquito, dez reais!", ouve-se um som novo na rua 25 de Março, no centro de São Paulo. Algo como o zumbido de uma abelha, mas mais alto e que dura apenas alguns segundos e cessa.

No meio da multidão, eis a fonte do barulho: um homem vende uma lanterna preta que, além de emitir um facho de luz, dá choques capazes de derrubar um homem adulto, caso se encoste o bocal de onde sai a luz numa vítima.

Enquanto o aparelho não está zunindo, o camelô anuncia "Olha a 'lantaser'. Bota o ladrão no chão!". O nome mistura lanterna com "taser", como são chamadas em inglês as armas de choque usadas para defesa pessoal.

E já ficou bem conhecido na região de comércio popular: a sãopaulo encontrou mais de dez lojas e camelôs vendendo a novidade, Os preços vão de R$ 50, por um modelo preto com a inscrição "Police" no cabo, a R$ 80, uma vistosa lanterna de LED e cabo emborrachado, com coldre para se levar na cintura, como uma arma.

Até porque se trata de uma arma arma. Instrumentos de choque são produtos controlados. Para se comprar um, é preciso autorização da Diretoria de Fiscalização de Produtos Controlados (gerida pelo Exército com o Ministério da Defesa). Apenas órgãos de segurança e guardas municipais conseguem conseguir essa permissão.

Tremidinha

Mas na 25 é só pagar e levar. "Vendo pelo menos 30 por dia", diz Carlos, o que vende "lantasers" no meio da multidão. "Tem até quem peça pra testar." E ele choca seus prospectos de cliente? "As que eu vendo tão quase sem bateria, então já deixei um cara dar choque no amigo. Ele nem caiu, só deu uma tremidinha."

O estande de número 21 no Shopping Liberty, na mesma rua, vende mais de 50 lanternas por dia, diz a vendedora Cida. "O pessoal compra a mais baratinha, porque não se importam com a luz, só com a faísca que sai quando aperta o botão de choque. Mas acho que compram na farra mesmo."

É o caso de Reinaldo, 16, que mora em Jaú (interior de SP) e estava em São Paulo de visita, com a família. "Vou mostrar pros meus amigos, só na zoeira. Acho que não vou usar em ninguém. Até porque pode matar, né?"

Com carga plena (carregada por cinco horas em tomada 110 V ou por três em 220), a lanterna é capaz de emitir um choque de 11.000 W, o mesmo de uma arma imobilizante usada pela polícia de Nova York, por exemplo.

"É bem perigoso. Pode trazer danos para o sistema nervoso ou causar uma arritmia no coração, ainda que não seja letal na maioria dos casos", diz o médico José Sommer.


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